terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ana Paula Santana, secretaria do Audiovisual


 
Durante o debate O Mercado Audiovisual e as Políticas Publicas no cenário das Coproduções, ocorridos no dia 30 de setembro, no Brasil Cine Mundi, na programação da Mostra Cine BH, os convidados falaram sobre alternativas de financiamento de produtos audiovisual brasileiros, sendo a coprodução internacional uma delas.

Uma das convidadas, a secretaria do Audiovisual, Ana Paula Santana, concedeu uma entrevista exclusiva ao Cinema em Cena, na qual fala sobre os rumos que o poder público está tomando para o cinema brasileiro.

Cinema em Cena: Você citou no debate que a prioridade da Secretaria do Audiovisual no momento é o fortalecimento das empresas, no caso as produtoras e que elas devem assumir riscos. Mas a gente vê muitos casos de filmes que vão para Festivais, até internacionais, mas acabam não conseguindo espaço de distribuição no Brasil, quando conseguem, tem pouco público, até porque o fato do filme estar em cartaz não significa que ele vai ter público. Então, para que essas empresas possam assumir riscos, eu gostaria de saber se há algum projeto para a divulgação desses filmes para o público, incentivar o público a assistir filme nacional?

Ana Paula Santana: Então, fortalecimento da empresa que eu me refiro, são fortalecimentos nos pequenos e médios produtores, porque tem empresas, poucas empresas, grandes ainda no Brasil atuando, mas existem uma quantidade tremenda de pequenas e médias empresas produtoras de audiovisual que tem que alcançar esse patamar de formalidade para começar a fazer frente, a se especializar, a conseguir financiamentos, a gente tem que induzir e preparar essas empresas para elas atuarem nesse novo cenário em que o Brasil vai tá atuando aí, que é o do financiamento, o de correr risco, o de contra-partida, então, essas são as empresas a que me refiro. É lógico que a gente pensa em qualificar e disponibilizar cada vez mais, a gente sabe que ainda há um gap na distribuição de filmes brasileiros, que gera a falta de acesso ao público a essa produção cinematográfica brasileira apoiada, então a gente já tem aí dois gargalos, que a gente tem que solucionar: distribuir e chegar ao consumidor, ao público final que é de fato quem paga a conta. Programas a gente tem trabalhado, finalizamos um planejamento estratégico que a gente vai propor pro BNDES, pro Ministério de Desenvolvimento do Comércio, linhas de crédito específicas para esse tamanho de produtoras, pequenas e médias produtoras, vamos também trabalhar a parceria com a ANCINE e com o Ministério do Desenvolvimento do Comércio, também a criação para as grandes empresas, porque é necessário, e eu não sei se você viu, no final, quando eu pedi a palavra, eu acho que a política, ela se equivoca quando ela acha que é única para vários públicos. A gente tem que parafrasear Rui Barbosa, a isonomia não significa estar para todo mundo em pé de igualdade, mas tratar todos os iguais dentro da sua igualdade, e se você é diferente do outro, é tratado diferentemente àqueles que são diferentes. Então, políticas específicas tem que serem criadas, demandantes específicos para públicos específicos e para atividades específicas do setor audiovisual.

Cinema em Cena: Mas se um filme não consegue um público consideravelmente grande, ele não consegue aquela sustentabilidade que você citou no debate, como no caso, conseguir sustentar seu próximo projeto...

Ana Paula: Aí você volta novamente a lógica do projeto. Na minha ideia não é o sucesso de bilheteria de um filme que vai dar sustentabilidade para uma produtora audiovisual, eu acho que o que dá o sustentabilidade para uma empresa de pequeno e médio porte e ela ter condições de estar atuando na atividade de forma contínua, perene, e que vai gerando... Não é ficar restrita a um filme ou a um produto, é gerar cartela, você pode fazer um longa-metragem, mas você pode estar ao mesmo tempo desenvolvendo um curta, uma web série, um game... Eu acho que a gente tá em um momento pujante que o audiovisual se modificou e que a gente tem que ver os novos formatos, os novos modelos de negócio, e trafegar nisso. Então, eu particularmente, como secretaria do audiovisual, não entendo o sucesso de bilheteria como a sustentabilidade de uma produtora, porque é o voo ponte aérea: fez sucesso, ganhou seu dinheiro, e aí vai e inicia todo o processo de novo, monta uma nova equipe, para se fazer um outro sucesso, que nem sempre é garantido, que vai repetir. O exemplo é o Tropa de Elite, que é um filmão, a gente não sabe se o Padilha quiser fazer um Tropa de Elite 3, ou se todos os blockbusters brasileiros vão seguir a mesma linha do Tropa de Elite. A individualidade e a identidade da produção audiovisual brasileira é isso, ela nos deixa misteriosa ao saber do sucesso, o que a gente tem que garantir de fato é o acesso do publico a essas obras, porque o público tendo acesso vai gerando e movendo a economia toda ao redor daquela produção e daquela empresa produtora. A geração econômica de um filme ela acontece no desenvolvimento de um projeto, na captação de recurso, na pré-produção, na produção de um filme, na distribuição e na exibição e quando chega na loja via DVD, ou chega na internet via VOD, então eu acho que a gente não precisa pensar só pensar em blockbuster não, a gente não tem que ter medo de ousar, e tem que ter uma mente empreendedora, aí eu acho que vai formar outro efeito.

Cinema em Cena: E em relação a projetos para incentivar o público, ver os filmes brasileiros, o que a secretaria tem feito?

Ana Paula: A gente tá aí com os circuitos dos Cine Mais Cultura com 1.070 salas, no circuito alternativo de produção brasileira, a nossa meta é ampliar, fazer também um trabalho de formação do público junto as escolas, o MEC... A ministra anunciou... Teve em reunião com o Ministro Fernando Haddad... Então o Ministro Fernando Haddad e a Ministra Ana de Hollanda fecharam várias ações de aproximação da cultura com a educação, e uma das ofertas de projetos que a gente trabalhou em conjunto é a oferta de audiovisual nas escolas, então a gente vai estar sentando com o MEC para formatar um projeto que, desde a gênese, que é a educação, que é onde tá o público novo, a gente vai estar atuando, a gente está desenvolvendo uma pesquisa sobre a produção audiovisual para a infância, que é onde se forma, de verdade, o gosto do espectador brasileiro ao produto brasileiro... As nossas crianças gostam de desenhos animados americanos porque só assistem desenhos animados americanos, no dia em que começar a ter uma produção brasileira, vai ter o divisor de água, a questão da escolha. Então, eu acho que a politica de formação de publico, ela tem que ser cada dia mais fomentada. E aí, é trabalhar junto com a ANCINE no sentido de ampliar a rede de salas de cinema no Brasil, dar uma forma de baratear o ingresso, tá em tramitação na câmara dos deputados, o vale cultura. Então assim, tem ações que exigem tempo, porque não dependem só do Ministério da Cultura, não dependem apenas da Secretaria do Audiovisual, então são vários outros sendo desenvolvidos, mas eu creio que já há um convencimento de governo de quão estratégico e importante é a gente estar investindo em alguns pilares de formação, de produção, de distribuição, de consumo e de geração de emprego e renda em relação ao audiovisual.

Cinema em Cena: Qual você acha que são as soluções para essas pequenas e médias empresas, que não alcançam grande sucesso de bilheteria, para elas conseguirem financiar suas produções, independente de financiamento público, por exemplo...

Ana Paula: Então, o digital ele traz um barateamento no custo de produção. É um mito se falar que não se faz coisa de qualidade com o digital. Hoje o digital, ele oferece muitas possibilidades e oferece qualidade. O governo não vai abandonar sua política também de indutor através de apoio a projetos e editais, a exemplo do programa de apoio e fomento a produção de audiovisual brasileira que a secretaria do audiovisual desenvolve ao longo desses anos. E a gente tá trabalhando como politica publica em desenvolver novos modelos de negócios, novos programas que possam ser indutores, que possam ser experimentais, no sentido de alavancar uma pequena empresa a pensar no novo e a seguir a sua vocação. Então eu acho que, como eu disse, no que já se ganhou não se mexe, agora a gente tem que trabalhar o que foi conquistado e tentar conquistar mais coisas. Então eu acho que há uma união aí, do que o estado pode e deve induzir. O estado, a secretaria do audiovisual, a ministra da cultura, entendem que é necessário a relação publica x privada, a gente tem aproximado a iniciativa privada, pra fazer investimentos na cultura, então assim, é uma responsabilidade de todos. É uma responsabilidade tanto do poder público, quanto da iniciativa privada, quanto do cidadão, quanto do consumidor. Eu sou advogada, então eu gosto de citar umas coisas que a há muito tempo eu aprendi: Fizeram a gente assinar um contrato social, para viver bem em sociedade, o contrato de Rousseau né? Eu não me lembro de ter assinado, mas como todo mundo assinou, então para se viver bem há que ter uma distribuição justa, e eu acho que é isso que esse governo, a presidenta Dilma, vem buscando quando pretende acabar com a miséria e construir um Brasil maior, é no sentido que todos tenham as benesses e os ônus, e possam compartilhar isso. É nesse rumo que a gente segue, dentro de uma linha governamental.

Cinema em Cena: O que está sendo feito de mudança em relação à legislação, porque você citou por exemplo a mudança nas relações internacionais do audiovisual, eu gostaria que você comentasse...

Ana Paula: É, mudança de fato, ainda não tem nada engatilhado, mas já tem todo um mapeamento a ser feito, para ser levado para discussão no conselho superior de cinema, de renovação de acordos de coprodução que o Brasil já tem firmados, que são acordos muito antigos e que a Secretaria do Audiovisual tá mapeamento e tá vendo quais são os interesses estratégicos do Brasil, quais são os países que a gente tem interesse estratégico, e que é importante a gente estar atuando não só no cinema, mas nas séries de televisão, nos jogos eletrônicos, nas animações, na produção de aplicativos, porque tudo isso é conteúdo, e tudo isso é conteúdo audiovisual.


10/10/2011

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