sexta-feira, 4 de setembro de 2015

"0s homens têm que aprender a ficar na sombra", diz Anna Muylaert -- Cláudio Assis e Lírio Ferreira são banidos de atividades da Funaj por postura em debate de 'Que Horas Ela Volta?' em Recife.

Muylaert, Regina Case e Camila Márdila. Três mulheres protagonizam o sucesso do filme Que Hoi'cis Ela Volta?, premiado em Sundance, no Festival de Berlim e cotado para representar o País no Oscar. Apesar disso, o destaque feminino não foi respeitado no debate promovido no último sábado, 29, pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Cinema do Museu, no Recife. Presentes a comité da própria diretora, os cineastas pernambucanos Cláudio Assis e Lírio Ferreira tumultuaram o debate ao interromperem insistentemente as falas da diretora, dos organizadores e questões da plateia.







Segundo a organização, Cláudio não estava escalado para fazer parte da mesa e no entanto subiu no palco com a diretora, tomou o microfone e falou do filme que Anna fará com ele. "Com esse filme, venho sentindo que caí numa zona mais ou menos masculina. Tenho sentido os homens tentando me ofuscar em várias situações, como se o brilho feminino fosse algo perigoso", incomoda-se a diretora Anna Muylaert.

Fundação Joaquim Nabuco / Ministério da Educação


NOTA
A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) informa que. diante do comportamento lamentável dos cineastas Cláudio Assis e Lírio Ferreira no Cinema do Museu, no último sábado (29), não permitirá qualquer evento envolvendo os dois realizadores, e suas respectivas produções, em qualquer espaço da Fundaj. A punição tem validade por um ano.

Em respeito ao público e prezando pela promoção da Educação e da Cultura, de forma democrática, a Fundaj reafirma seu compromisso com a qualidade e o respeito aos seus diversos públicos.

Em relação à represália, Anna diz ter dois sentimentos. "Como pessoa, acho humilhante para com meus amigos. Como cidadã, acho importante, porque realmente não é direito deles". Disse também que muitas pessoas ficaram satisfeitas com a medida, que segundo ela serve para esclarecer onde começa o machismo. "Não é o caso de demonizar. É preciso partir do episódio para discutir ideias. A discussão é muito maior do que eles".

A jornalista pernambucana Carol Almeida e o diretor de arte do filme, Thales Junqueira, presentes no debate, também comentaram o acontecido nas redes sociais. "Detesto linchamentos, aquela síndrome generalizada de Carandiru, punitiva, violenta e tantas vezes cega. Conheço Lírio há muitos anos e adoro ele. Lírio realmente é um cara doce, gentil, amoroso, que está passando por um momento difícil e que precisa da ajuda dos amigos. Mas o que aconteceu 110 Cinema do Museu não foi apenas falta de respeito, de educação, foi machismo também. Imagino que isso não teria acontecido se o debate fosse com um diretor homem amigo. Será que eles teriam atrapalhado um debate de Felipe Barbosa? Ou de Kleber Mendonça? questionou Junqueira em seu perfil pessoal.


Regina Casé interpreta Val em 'Que Horas Ela Volta?',
 'mulher do povo' que a atriz se diz orgulhosa de interpretar

Alina, que tem viajado muito na divulgação de Que Horcis ela Volta?, descreve outras situações similares em que seu protagonismo como diretora tem sido secundarizado, no Brasil e no exterior. "É uma questão nacional e mundial. Em Hollywood também, as mulheres estão falando [referência ao discurso da atriz Patrícia Arquette no Oscar deste ano]. Não dá mais, as mulheres vão brilhar sim, não vão ficar em casa. E os homens têm que aprender a ficar na sombra, a ouvir, não só a falar. As mulheres aprenderam a falar e eles vão ter que se conformar", diz a diretora. "No início do cinema, quase só tinha mulher. Quando começou a dar dinheiro, as mulheres foram expulsas. 0 mundo do dinheiro é masculino. Quando meu filme vendeu e cresceu, pequenas coisas passaram a me fazer sentir que sou intrusa. É como se ninguém soubesse muito bem como lidar comigo agora".


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fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti

colaboração:
Roseli Biage 


JULIANA DOMINGOS DE LIMA • ESPECIAL PARA O ESTADO DE S. PAULO
http://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,os-homens-tem-que-aprender-a-ficar-na-sombra--diz-anna-muylaert,1753933

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