Filme franco-argelino Fora da lei foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e premiado em Cannes
Da dificuldade de se encontrar atrizes para uma cena de beijo até estruturação incipiente, no exemplo da Argélia, que só teve o Centro Nacional Audiovisual instituído em 2004, passando pela reativação de desfalcados circuitos — o cinema árabe enfrenta muitas barreiras até chegar aos espectadores. Ciente disso, Nágila Guimarães, uma das curadoras da Mostra de Cinema Árabe — a partir desta terça-feira (28/6), no Centro Cultural Banco do Brasil — se dispôs à meta: “Quis ser bem abrangente na seleção dos temas e contar com o maior número de países representados”. O resultado está no agrupamento de 17 filmes produzidos por 10 países, entre os quais, Iraque, Jordânia, Líbano e Egito.
“Cinema é uma forma de se contatar com outros países: dá para tirar um pouco do mundo e levar junto”, compara Nágila Guimarães, parceira na curadoria de Lina Menzli e Dora Bochoucha. Iniciativa que tem agregado parte do Oriente Médio, com relevância de traços africanos e asiáticos, o florescimento de festivais como os de Dubai, Abu Dhabi (Emirados Árabes) e Doha (no Catar) mobiliza produtores e realizadores de países que, progressivamente, contam com fundos para a estruturação maior dos roteiros de cinema, avalia a curadora. Aos 49 anos, ela vivencia, na condição de produtora e de “moradora do mundo, há 24 anos”, um punhado de festivais no exterior. Nágila está atenta a casos como o de Cidade da vida (2009), título selecionado para o CCBB e que marcou a entrada dos Emirados Árabes no panorama de cinema internacional. “Foi o primeiro com qualidade suficiente para o posto. O diretor Ali Mostafa captou muito bem a diversidade étnica na região — aquela Torre de Babel, repleta de diferenças de classes”, comenta.
Referências
O caldo de referências alheias ao dito mundo árabe também se engrossa, uma vez que muitos dos jovens cineastas têm formação fora do país de origem, como é o caso do marroquino Nour Eddine Lakhmari, muito valorizado na Escandinávia e representado na mostra por Casanegra (2008), filme em torno de regeneração e delinquência. “Os estudos no exterior formam realidades que acrescentam e não descaracterizam as culturas”, observa a curadora.
Também saído do país de origem, o sírio Joud Said dirige Outra vez (2009), longa voltado a um caso de amor cerceado pelas circunstâncias da guerra civil com a interferência Síria em território libanês, que, por sinal, traz à tona os limites da ficção no cinema examinado. “É uma parte do mundo tão conflitante, então, como eles poderiam lidar com isso apenas na ficção? Uma coisa (a realidade) entra na outra (ficção), de forma quase orgânica”, analisa Nágila Guimarães.
Instabilidade com atentados, processos sangrentos de independência, intolerância na pluralidade religiosa e sanções econômicas internacionais são alguns dos quebra-cabeças comuns a países representados na mostra do CCBB.
Catadores de papel
Daí, brotarem enredos como os de Porto da memória (2009), centrado na questão territorial, a partir da ação de despejo de uma família da área Palestina, antes de 1948; de Caindo por terra (2008), do estreante Chadi Zeneddine, voltado para a reintegração de Beirute almejada pelos esperançosos libaneses e de Reciclar (2007), um documentário da Jordânia, a postos para denunciar a dura realidade de um ex-soldado, pai de oito filhos que, na cidade do abatido líder da Al-Qaeda Abu Masab az-Zarqawi, presencia a falta de perspectivas dos filhos entregues à rotina de catadores de papel.
“Não se mostra apenas um mosaico de mártires. Não são representadas apenas vidas sofridas. Nos filmes, vemos amor, alegria e dor, em doses equilibradas. O Brasil nunca passou por uma guerra, mas as pessoas podem se conectar com os filmes que contemplam a humanidade, em geral. Falam de doçura e sonhos”, observa Nágila Guimarães. A crença em melhores condições é extravasada na expressão internacional alcançada por cinematografias ricas de países pequenos como a Tunísia, sempre exaltada pelo teor de liberalismo.
“É um local em que a mulher se emancipou mais cedo, mas, alguns filmes de lá são objeto de polêmica. Apesar de muito sutil no registro de nudez, o filme Segredos enterrados (de Raja Amari, selecionado para mostra paralela do Festival de Veneza) lida com o grande tabu que é o incesto”, comenta Nágila, ao falar do cinema da autora de Satin rouge (2002), um filme detido nas mudanças experimentadas por uma viúva que rompe barreiras sociais.
Alinhados à questão da independência feminina e integrados à mostra do CCBB, títulos conduzidos por mulheres, como Todo dia é feriado (2009) e Câmeras abertas (2009), demonstram o potencial de interesse dentro da programação com acesso gratuito: o primeiro se fixa nos destinos de libanesas que visitam os maridos na cadeia, enquanto o outro, um documentário, registra o empenho de iraquianas arregimentadas para um perigoso projeto fotográfico.
“Cinema é uma forma de se contatar com outros países: dá para tirar um pouco do mundo e levar junto”, compara Nágila Guimarães, parceira na curadoria de Lina Menzli e Dora Bochoucha. Iniciativa que tem agregado parte do Oriente Médio, com relevância de traços africanos e asiáticos, o florescimento de festivais como os de Dubai, Abu Dhabi (Emirados Árabes) e Doha (no Catar) mobiliza produtores e realizadores de países que, progressivamente, contam com fundos para a estruturação maior dos roteiros de cinema, avalia a curadora. Aos 49 anos, ela vivencia, na condição de produtora e de “moradora do mundo, há 24 anos”, um punhado de festivais no exterior. Nágila está atenta a casos como o de Cidade da vida (2009), título selecionado para o CCBB e que marcou a entrada dos Emirados Árabes no panorama de cinema internacional. “Foi o primeiro com qualidade suficiente para o posto. O diretor Ali Mostafa captou muito bem a diversidade étnica na região — aquela Torre de Babel, repleta de diferenças de classes”, comenta.
Referências
O caldo de referências alheias ao dito mundo árabe também se engrossa, uma vez que muitos dos jovens cineastas têm formação fora do país de origem, como é o caso do marroquino Nour Eddine Lakhmari, muito valorizado na Escandinávia e representado na mostra por Casanegra (2008), filme em torno de regeneração e delinquência. “Os estudos no exterior formam realidades que acrescentam e não descaracterizam as culturas”, observa a curadora.
Também saído do país de origem, o sírio Joud Said dirige Outra vez (2009), longa voltado a um caso de amor cerceado pelas circunstâncias da guerra civil com a interferência Síria em território libanês, que, por sinal, traz à tona os limites da ficção no cinema examinado. “É uma parte do mundo tão conflitante, então, como eles poderiam lidar com isso apenas na ficção? Uma coisa (a realidade) entra na outra (ficção), de forma quase orgânica”, analisa Nágila Guimarães.
Instabilidade com atentados, processos sangrentos de independência, intolerância na pluralidade religiosa e sanções econômicas internacionais são alguns dos quebra-cabeças comuns a países representados na mostra do CCBB.
Catadores de papel
Daí, brotarem enredos como os de Porto da memória (2009), centrado na questão territorial, a partir da ação de despejo de uma família da área Palestina, antes de 1948; de Caindo por terra (2008), do estreante Chadi Zeneddine, voltado para a reintegração de Beirute almejada pelos esperançosos libaneses e de Reciclar (2007), um documentário da Jordânia, a postos para denunciar a dura realidade de um ex-soldado, pai de oito filhos que, na cidade do abatido líder da Al-Qaeda Abu Masab az-Zarqawi, presencia a falta de perspectivas dos filhos entregues à rotina de catadores de papel.
“Não se mostra apenas um mosaico de mártires. Não são representadas apenas vidas sofridas. Nos filmes, vemos amor, alegria e dor, em doses equilibradas. O Brasil nunca passou por uma guerra, mas as pessoas podem se conectar com os filmes que contemplam a humanidade, em geral. Falam de doçura e sonhos”, observa Nágila Guimarães. A crença em melhores condições é extravasada na expressão internacional alcançada por cinematografias ricas de países pequenos como a Tunísia, sempre exaltada pelo teor de liberalismo.
“É um local em que a mulher se emancipou mais cedo, mas, alguns filmes de lá são objeto de polêmica. Apesar de muito sutil no registro de nudez, o filme Segredos enterrados (de Raja Amari, selecionado para mostra paralela do Festival de Veneza) lida com o grande tabu que é o incesto”, comenta Nágila, ao falar do cinema da autora de Satin rouge (2002), um filme detido nas mudanças experimentadas por uma viúva que rompe barreiras sociais.
Alinhados à questão da independência feminina e integrados à mostra do CCBB, títulos conduzidos por mulheres, como Todo dia é feriado (2009) e Câmeras abertas (2009), demonstram o potencial de interesse dentro da programação com acesso gratuito: o primeiro se fixa nos destinos de libanesas que visitam os maridos na cadeia, enquanto o outro, um documentário, registra o empenho de iraquianas arregimentadas para um perigoso projeto fotográfico.
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