quarta-feira, 22 de junho de 2011

Admirável Mundo Novo


Para Arnaldo Jabor, filmes como Se Beber Não Case são verdadeiras aberrações cinematográficas
Para Arnaldo Jabor, filmes como Se Beber Não Case são verdadeiras aberrações cinematográficas
Recentemente dois consagrados comentaristas fizeram observações sobre “qualidade” no cinema. Arnaldo Jabor, que também é cineasta, espinafrou a produção comercial, sobretudo os filmes made in Hollywood. Para ele filmes como Se Beber Não Case (o um e o dois), apesar do sucesso de bilheteria de ambos, são verdadeiras aberrações cinematográficas e reveladores de uma crise de criação no cinema contemporâneo e por consequência também do gosto do público, por causa dos inúmeros espectadores que enchem as salas de exibição para verem estas comédias apelativas, repletas de clichês e sem imaginação. Outro comentarista a tecer considerações sobre o mesmo tema foi Eduardo Escorel, outro cineasta, responsável por um espaço dedicado ao audiovisual numa revista de circulação mensal. Escorel criticou dois filmes da produção nacional recente: Estamos Juntos, de Toni Venturi e Família Vende Tudo, de Alain Fresnot, ambos exibidos no último CinePE. Para ele as obras em questão são bem produzidas, com fotografia correta e elenco convincente, contudo seriam filmes insatisfatórios e frágeis na forma.

Durante alguns dias fiquei matutando sobre os comentários feitos por estes dois senhores e refletindo um pouco sobre o que eles afirmaram. De fato, as observações feitas são em parte procedentes e se aproximam com o que também tenho avaliado com relação a um determinado segmento da produção cinematográfica atual. Ao mesmo tempo, porém, fico preocupado quando eles afirmam ou insinuam a existência de uma crise criativa ou de esgotamento das formas narrativas e tentam apontar possíveis culpados para tal situação, mesclando desde processos econômicos que constrangem a inventividade artística até influências perniciosas de formatos como o padrão visual da teledramaturgia. Não quero aqui julgar a opinião de ninguém, mas sinceramente considero um pouco exagerado tais assertivas. O universo do audiovisual é de uma amplitude inimaginável e em constante expansão. Se nos debruçarmos sobre a fortuna crítica construída pelos historiadores e pesquisadores deste campo de conhecimento nos deparamos com um variado espectro de possibilidades sobre as diversas questões envolvendo a atividade. Questões tecnológicas, de linguagem, de ordem estética e de economia formam um intricado mosaico de conceitos e perspectivas cujas análises rapidamente derrubam por terra as tentativas de sintetizarem, por meio de frases de efeito, diagnósticos apressados sobre a realização audiovisual contemporânea.  

As questões financeiras e de mercado, por si, não justificam a falta de criatividade. O cinema, ou para sermos mais preciso, a indústria do audiovisual como um todo, sempre movimentou enormes quantias de dinheiro e nem por isso impediu de termos artistas inquestionáveis seja nos Estados Unidos, na França, Inglaterra, Itália, Alemanha, Japão, Índia ou Brasil. Muito lixo foi produzido para obtenção de lucro fácil, mas quantas obras-primas foram feitas e são cultuadas até os dias atuais? Também a falta de recursos nem sempre foi sinônimo de inventividade. 

Movimentos como os novos cinemas nos anos 60 deram uma contribuição fabulosa aos avanços da linguagem cinematográfica, mas também geraram muita porcaria. A televisão, sempre apontada por muito tempo como vilã do audiovisual, tem demonstrado ser capaz de produções de altíssimo nível e a relação cada vez mais estreita com o cinema tem renovado ambos os meios e com inegáveis ganhos qualitativos para ambas as partes. Desta forma é bom pensar no audiovisual como uma cadeia complexa e avaliar com clareza os protagonistas envolvidos em cada setor da produção. A relação entre arte e negócio foi, é, e sempre será um terreno espinhoso. Já os processos de criação, nem se fala.  

Não estou querendo afirmar que indagações e críticas não devam ser feitas. É salutar posicionamentos e cobranças, mas não devemos nos pautar por um certo saudosismo, como me pareceu, salvo engano, a tônica dos comentários aludidos no início deste texto. O teatro é uma expressão milenar e não deixa de se renovar, a literatura idem. O audiovisual vive hoje uma efervescência de experimentos narrativos nos quatro cantos do planeta e com a tecnologia digital e a internet há uma maior circulação das obras produzidas. Tem muita bobagem sendo consumida? Sim. Mas, tem muita coisa interessante emergindo, inclusive de regiões que sempre estiveram alijadas dos circuitos tradicionais de produção. E o melhor: os velhos e bons filmes em película, as obras marginais e alternativas feitas no passado estão a nossa disposição a qualquer momento, dialogando com o presente e inspirando os novos criadores. Portanto, se estendermos nosso olhar para as telas do mundo, seja na sala de cinema, na televisão, ou na web continuaremos nos surpreendendo positivamente e muito longe de qualquer esgotamento.
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