terça-feira, 28 de junho de 2011

Morreu o cineasta, crítico e gestor Gustavo Dahl, aos


Gustavo Dahl (1938 – 2011)

Morreu o cineasta, crítico e gestor Gustavo Dahl, aos 72 anos, vítima de um infarto. Ele faleceu no domingo (26/6) em Trancoso, na Bahia, enquanto assistia a um filme. Argentino naturalizado brasileiro, Dahl foi um dos grandes teóricos do Cinema Novo e esteve a frente dos principais órgãos públicos ligados à atividade audiovisual – foi responsável pelo sucesso da Embrafilme e também o primeiro diretor-presidente da Ancine.
Dahl começou sua ligação com a história do cinema na Cinemateca Brasileira em 1958, antes de partir para a Itália, para estudar no Centro Experimental de Cinematografia de Roma, graças a uma bolsa de estudos conseguida em 1960. Lá, conviveu com os cineastas italianos Marco Bellochio (“Vincere”) e Bernardo Bertolucci (“O Último Tango em Paris”), e se tornou amigo do brasileiro Paulo César Saraceni (“Capitu”). Foi através deste que se ligou ao movimento do Cinema Novo.
Gustavo Dahl
Com e experiência adquirida na Itália e também num curso de cinema etnográfico em Paris, aprimorou-se como crítico de cinema. Em 1961, passou a defender – em artigos como “Algo de Novo entre Nós” e “A Solução Única” – o esquema de produção individual do “autor” com a “câmera na mão”, que marcaria o Cinema Novo. Seus textos foram publicados por diversos jornais do país e em revistas como Civilização Brasileira e a francesa Cahiers du Cinéma.
Não demorou para colocar em prática todas as suas teorias, tornando-se montador de filmes, enquanto nutria o desejo de ser documentarista.
Cena do cartaz de O Bravo Guerreiro
Já em 1965 recebeu os prêmios Coruja de Ouro e Saci pela montagem de “A Grande Cidade”, de Cacá Diegues. Mais tarde, em 1974, voltou a receber o mesmo Coruja de Ouro pela montagem de “Passe Livre”, de Oswaldo Caldeira. Montou ainda “Integração Racial” (1964) de Paulo César Saraceni, “Pedro Diabo Ama Rosa Meia-Noite” (1969), de Miguel Faria Jr., e “Soledade” (1976), de Paulo Thiago.
Do projeto inicial de filmar documentários veio o primeiro curta, “Em Busca do Ouro” (1965), sobre o ciclo do ouro de Minas Gerais no século 18. Também montou, em 1970, “Tostão – A Fera de Ouro”, com depoimentos dos monstros sagrados do futebol brasileiro: Pelé, Gerson, Jairzinho e o próprio Tostão. O futebol era mesmo uma de suas paixões, e foi revisitada no documentário “Passe Livre” (1974), que montou para Oswaldo Caldeira.
Uirá, Um Índio em Busca de Deus
A estreia em longa aconteceu com “O Bravo Guerreiro” (1968), que juntamente com “O Desafio” (de Saraceni) e “Terra em Transe” (de Glauber Rocha) formou a trilogia de filmes políticos da segunda fase do Cinema Novo. O filme de Dahl, porém, tinha um diferencial. Ao refletir o universo desencantado da juventude classe média urbana, acabou também tendo reflexos no nascente Cinema Marginal.
Logo após seu segundo longa, “Uirá, Um Índio em Busca de Deus” (1973), aconteceu a reviravolta que definiu o resto de sua carreira. Dahl assumiu, a convite do também cineasta Roberto Farias, a superintendência de comercialização da Embrafilme. Foi o começo de seu trabalho como gestor público de cinema.
Uirá, Um Índio em Busca de Deus
Dahl reformulou a área de distribuição da Embrafilme, transformando a estatal na segunda maior distribuidora do país – e isto trabalhando exclusivamente com filmes brasileiros. Graças a esse esforço, no período de 1975 a 1979 o cinema brasileiro atingiu uma marca histórica, ocupando com seus lançamentos um terço de todos os cinemas do país – feito nunca mais repetido.
Após sair da Embrafilme, Dahl foi presidente da Associação Brasileira de Cineastas (1981-1983) e realizou em 1983 o seu terceiro longa-metragem, “Tensão no Rio”.
Nelson Xavier em cena de Tensão no Rio
O retorno às câmeras não durou muito. Em 1985 tornou-se presidente do hoje extinto Concine e, no final do governo Sarney, presidiu o Conselho Nacional de Direitos Autorais. Numa folga entre o trabalho burocrático colaborou no roteiro de “Bahia de Todos os Sambas” (1996), documentário sobre MPB, para o amigo Saraceni e o co-diretor Leon Hirchman.
Em 2002, com a criação da Ancine, foi nomeado seu primeiro diretor-presidente, dedicando-se à sua implantação até o final do mandato, em dezembro de 2006. Seu último trabalho foi como gerente do CTAV (Centro Técnico Audiovisual do Ministério da Cultura).
José Lewgoy em cena de Tensão no Rio
Em nota à imprensa, a Ministra da Cultura Ana de Hollanda lamentou a perda do formidável gestor. “A morte inesperada de Gustavo Dahl é um golpe profundo não só para a comunidade do cinema, como para o Brasil”, ela disse, ressaltando que o cineasta era uma “figura humana, luminosa e divertida”.
Manoel Rangel, diretor-presidente da Ancine, também se manifestou sobre o legado do cineasta. “Sua experiência e sua vida dedicada ao cinema e ao Brasil deixam lições valiosas aos que tivemos a experiência de com ele conviver e trabalhar, e são referência para aqueles que levam adiante a luta pelo desenvolvimento do cinema e do audiovisual nacional”.

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