O ano de 1895 marca o nascimento do cinema e da psicanálise. A data parecia o prenuncio de um casamento feliz entre dois campos que compartilham um profundo interesse no inconsciente humano. Entretanto, foi o marco de uma relação atribulada, dividida entre a afinidade e a desconfiança.
“Freud (médico austríaco, inventor da psicanálise) temia que a tentativa do cinema de apropriar-se dos conceitos psicanalíticos na tela produzisse uma imagem superficial e equivocada de suas ideias”, conta o psicanalista Manoel Leite, membro da Formação Clínica do Campo Lacaniano e Mestre em Psicanálise pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A relação permanece, mas os mais de cem anos de convívio vêm sendo marcados mais pelos encontros e afinidades, diz o especialista. “A psicanálise percebeu que o cinema tem a capacidade de colocar a fantasia em cena. O audiovisual amadureceu uma linguagem própria, que lida com enquadramentos, montagens - elementos típicos dos sonhos. Todos esses elementos são generosamente oferecidos ao deleite do estudioso do inconsciente”, aponta.
É desse cruzamento entre imagem e subjetividade que Manoel Leite irá tratar no workshop “Psicanálise e Cinema”, que integra a programação do Festival Pan-Amazônico de Cinema – Amazônia Doc.3. Hoje é o último dia para inscrições, realizadas por meio do site do festival: www.amazoniadoc.com. A atividade ocorre de 16 a 19 de novembro, no Colégio Ideal, com 50 vagas e inscrições gratuitas.Abordando as intersecções históricas e conceituais dos dois campos, as aulas partirão da análise de filmes específicos, tentando iluminar as obras escolhidas a partir de certos aspectos da teoria psicanalítica.
“Serão apresentados alguns conceitos da psicanálise que mais se relacionam com o cinema, como a teoria dos sonhos, os conceitos de inconsciente e de fantasia. O workshop não pretende interpretar o filme para revelar sua verdadeira essência. Mas utilizar das ferramentas da psicanálise para produzir novos recortes e novas interpretações, enriquecendo com isso a leitura do filme e a experiência de assistí-lo. Encontramos ideias psicanalíticas bem representadas em filmes de todos os estilos”, explica o psicanalista.
Manoel atenta que o workshop não deve ser encarado como uma espécie de “guia” para o uso da psicanálise na tela. De acordo com ele, apesar da parceria ter acontecido ao longo da história, a colaboração parece funcionar apenas de forma incidental.
“É engraçado, mas há filmes que mostram de forma bela e exemplar conceitos da psicanálise, apesar de seus autores rejeitarem as teorias de Freud. E isso é relevante por que não é preciso conhecer nada de psicanálise para obter esse efeito. É como Lacan (Jacques-Marie Émile Lacan, psicanalista francês) afirmou: “o artista precede o psicanalista”. Meu conselho é: esqueçam de tudo na hora de filmar. Sejam sujeitos, coloquem sua própria subjetividade em cena, não tentem filmar a psicanálise, nem filmar psicanaliticamente”, ensina Manoel.
Filme “Cidade dos Sonhos”, de David Lynch: “encontramos ideias psicanalíticas bem representadas em filmes de todos os estilos”, diz o ministrante Manoel Leite. (Diário do Pará)
fonte:
http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-145177-OFICINA+DISCUTE+RELACAO+ENTRE+CINEMA+E+PSICANALISE.html
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