Hélio Nascimento | hr.nascimento@yahoo.com.br Cinema |
Antes da revolução
Desde que George Méliès, nos primórdios do cinema, descobriu que o novo meio de expressão podia ser um auxiliar para suas atividades de mágico, que os efeitos especiais têm se constituído em algo por demais valioso, principalmente quando é necessário exercitar a fantasia ou narrar tramas que se desenrolam em tempos afastados da nossa realidade. Mas tais efeitos também podem ser utilizados para reforçar aspectos da própria realidade que nos cercam, ao contribuir para que o realismo seja reforçado em cena. O ponto alto dessa técnica, uma homenagem, talvez involuntária a Méliès, até pelo tema central da sequência, é o trecho de 2001: uma odisseia no espaço, no qual vemos um veículo espacial se aproximar da lua. Aquela Viagem à luakubrickiana também mostrou que os efeitos especiais têm resultados mais poderosos quando são utilizados para recriar a realidade, no caso a transformação de naves espaciais em veículos para passageiros. O diretor Rupert Wyatt, neste O planeta dos macacos - a origem, também se mostra interessado em recriar uma realidade que não faz parte de nosso mundo, mas que poderia existir. Ou seja, não somos colocados diante de fantasias, mas de algo que poderia ser real. E mesmo os que reclamam dos excessos na utilização da tecnologia na produção cinematográfica atual terão que concordar que o cineasta não contribui para aumentar o número dos que confundem meios e fins. Os efeitos especiais são perfeitos no filme e contribuem para que a história narrada chegue à tela com o impacto desejado.
O primeiro Planeta dos macacos foi realizado por Franklin J. Shaffner em 1968 e deu origem a diversas variações e também a uma desastrada refilmagem de Tim Burton em 2001. Mas agora, o que vemos é uma elaborada retomada do tema principal do primeiro filme, não apenas por recriar o que havia acontecido antes do trabalho de Shaffner, pois o que Wyatt pretende é dar continuidade a um discurso sobre a crise da civilização. Mais do que isso: o filme de agora, assim como primeiro, que se concluía com aquele plano antológico da Estátua da Liberdade, procura falar sobre um fracasso, o maior de todos, aquele que conduz a um cenário no qual se configura o retrocesso maior. O plano de encerramento do filme não é apenas o início de uma revolução orwelliana, o prelúdio de uma ópera sinistra na qual o ser humano perde o controle sobre o mundo. Estamos diante da vitória do reprimido. O filme de Wyatt não escapa de alguns lugares-comuns, entre eles aquele carcereiro brutal, no qual parecem se concentrar os defeitos de uma civilização, quando estes, na medida em que são consequências de um processo no qual a repressão tem papel relevante, não deveriam ser simplificados de tal forma.
A prisão que o filme nos mostra é uma evidência de que como o cenário é elemento fundamental em cinema. A imitação da natureza e as grades são mais importantes do que o comportamento do funcionário estúpido que vigia os símios. O problema principal do filme é que ele não desenvolve apropriadamente o tema que propõe. O cientista que está procurando uma cura para o mal de Alzheimer tem um pai que sofre da doença. Quando o vemos na primeira vez que aparece ele se exaspera por não conseguir, ao piano, tocar uma peça de Debussy. Quando melhora, depois de tomar o medicamento elaborado pelo filho, toca com perfeição uma obra de Bach. De um lado a ciência. De outro, a arte. É a civilização que parece vitoriosa. No entanto, é esta mesma civilização que, na cena da abertura, investe brutalmente contra a natureza e depois utilizará seres vivos para suas experiências. A contradição explode numa revolta que o filme focaliza com ênfase exagerada, mas perfeita em matéria de utilização das técnicas permitidas pela computação. Se antes, no lugar de dar tanto espaço para as brutalidades de um funcionário, tivesse focalizado as contradições da civilização o filme seria bem mais interessante. Mesmo assim, é obra que merece atenção, mesmo porque o realizador pretende realizar uma sequência na qual deverá mostrar César e seus liderados no poder.
fonte:
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=71856
O primeiro Planeta dos macacos foi realizado por Franklin J. Shaffner em 1968 e deu origem a diversas variações e também a uma desastrada refilmagem de Tim Burton em 2001. Mas agora, o que vemos é uma elaborada retomada do tema principal do primeiro filme, não apenas por recriar o que havia acontecido antes do trabalho de Shaffner, pois o que Wyatt pretende é dar continuidade a um discurso sobre a crise da civilização. Mais do que isso: o filme de agora, assim como primeiro, que se concluía com aquele plano antológico da Estátua da Liberdade, procura falar sobre um fracasso, o maior de todos, aquele que conduz a um cenário no qual se configura o retrocesso maior. O plano de encerramento do filme não é apenas o início de uma revolução orwelliana, o prelúdio de uma ópera sinistra na qual o ser humano perde o controle sobre o mundo. Estamos diante da vitória do reprimido. O filme de Wyatt não escapa de alguns lugares-comuns, entre eles aquele carcereiro brutal, no qual parecem se concentrar os defeitos de uma civilização, quando estes, na medida em que são consequências de um processo no qual a repressão tem papel relevante, não deveriam ser simplificados de tal forma.
A prisão que o filme nos mostra é uma evidência de que como o cenário é elemento fundamental em cinema. A imitação da natureza e as grades são mais importantes do que o comportamento do funcionário estúpido que vigia os símios. O problema principal do filme é que ele não desenvolve apropriadamente o tema que propõe. O cientista que está procurando uma cura para o mal de Alzheimer tem um pai que sofre da doença. Quando o vemos na primeira vez que aparece ele se exaspera por não conseguir, ao piano, tocar uma peça de Debussy. Quando melhora, depois de tomar o medicamento elaborado pelo filho, toca com perfeição uma obra de Bach. De um lado a ciência. De outro, a arte. É a civilização que parece vitoriosa. No entanto, é esta mesma civilização que, na cena da abertura, investe brutalmente contra a natureza e depois utilizará seres vivos para suas experiências. A contradição explode numa revolta que o filme focaliza com ênfase exagerada, mas perfeita em matéria de utilização das técnicas permitidas pela computação. Se antes, no lugar de dar tanto espaço para as brutalidades de um funcionário, tivesse focalizado as contradições da civilização o filme seria bem mais interessante. Mesmo assim, é obra que merece atenção, mesmo porque o realizador pretende realizar uma sequência na qual deverá mostrar César e seus liderados no poder.
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http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=71856
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