quinta-feira, 5 de abril de 2012

Legislativo audiovisual

A criação da Câmara Setorial do Audiovisual no Ceará abre um novo espaço de debate e formulação de políticas públicas para o setor


De cultura, o que existia dentre as 17 câmaras setoriais da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), ligada à Assembleia Legislativa, era a sua acepção mais elementar: cultivo da terra. Os diferentes segmentos da cadeia produtiva da floricultura, da fruticultura e da cajucultura já possuíam um espaço de debate e articulação de políticas públicas para o setor. Era o caso também das cadeias produtivas do leite, mel, tilápia, camarão, carnaúba, e da saúde, tecnologia da informação, energia eólica, entre outros. Isso até semana passada, quando a Adece criou a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Audiovisual.

Primeira a contemplar uma linguagem artística – e uma indústria cultural –, a câmara foi criada no último dia 27, com a presença de várias instituições públicas, privadas e não-governamentais, como universidades, associações profissionais e secretarias de cultura. Na ocasião, a diretoria foi eleita, deliberada a periodicidade mensal das reuniões (toda terceira quarta-feira de cada mês) e injetada no setor novo impulso.

“O ruim é o audiovisual ter alguns projetos, mas poucas políticas públicas claramente definidas”, considera o sociólogo e jornalista Paulo Linhares, presidente do Instituto de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Estado do Ceará (Inesp) e eleito presidente da nova câmara.

Ele ressalta o avanço da formação de profissionais da área. De fato, surgiram em Fortaleza nos últimos anos novos cursos de graduação em cinema e audiovisual como os da UFC e Unifor, além da criação da Escola de Audiovisual da Vila das Artes, equipamento da Secretaria de Cultura de Fortaleza. Por outro lado, a profissionalização do setor ainda não é o suficiente na opinião de Linhares.

“A gente pode reforçar essa formação com expertise e com equipamento, tornar mais acessível e barato o equipamento”, fala Paulo Linhares. Ele cita como possível projeto a ser debatido na câmara setorial a ideia de um “centro de produção digital”, algo que já vinha sendo articulado com o governador Cid Gomes e com outros profissionais da área.

Em teoria, o centro atuaria ao mesmo tempo na capacitação de jovens e no fomento a produção de conteúdo digital para novas plataformas como smartphones e tablets. “Um lugar aberto às pessoas que estão produzindo. Essa formação em convergência digital não existe no Ceará ainda”.

A Câmara Setorial do Audiovisual também chega num momento estratégico para o mercado no País. A lei 12.485, aprovada pelo Congresso e sancionada pela presidente Dilma Rousseff ano passado, promete aumentar exponencialmente a demanda por conteúdo de produtoras brasileiras independentes nos canais de TV por assinatura. Aguardando apenas a regulamentação da Agência Nacional do Cinema (Ancine), a lei institui a obrigatoriedade desses canais veicularem um mínimo de 1 hora e 10 minutos por semana de conteúdo produzido por produtoras independentes nacionais – a cota aumenta para 3 horas e 30 minutos até 2014.

“É um momento importante porque coloca o audiovisual como uma política estratégica do Estado, coloca o cinema não só como cultura, mas como desenvolvimento”, opina Marcelo Ikeda, professor de Cinema e Audiovisual da UFC. Ikeda lembra ainda que a Ancine ampliou a verba do Fundo do Audiovisual. Este ano serão R$ 55 milhões, contra R$ 20 mi do ano passado. 30% desta verba deverá ser destinado a projetos do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

“Uma política pública para o audiovisual não pode se resumir a lançar editais para a produção de obras. É preciso pensar numa política pública mais ampla, que envolva a cadeia produtiva como um todo. Produção, distribuição e exibição”, enfatiza o professor. “O Ceará sai na ponta desse movimento”, avalia.


fonte:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2012/04/05/noticiasjornalvidaearte,2814879/legislativo-audiovisual.shtml

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