RIO - Daqui até dezembro, 45 mostras de cinema serão realizadas no Rio de Janeiro, em diferentes pontos da cidade. Com orçamentos que variam numa média de R$ 100 mil a R$ 300 mil por evento, a indústria das retrospectivas chega a mobilizar cerca de R$ 4 milhões por ano da verba de centros culturais, criando um circuito exibidor paralelo para produções nacionais e estrangeiras, que gera ainda debates, catálogos com cara de livro de ensaio e oficinas sobre linguagem audiovisual. O desafio de conseguir cópias.
- O formato de mostras permite promover o acesso a filmes que raramente são exibidos no circuito comercial e possibilitar o estudo das filmografias a partir dos suportes originais em que os filmes foram concebidos - diz Danon Lacerda, gerente de planejamento da unidade carioca do CCBB, que contabiliza cerca de 30 mostras por ano em todas as suas sedes no país. - O investimento anual muda de ano para ano. Em 2012 serão investidos R$ 2 milhões na área de cinema, incluindo festivais.
Em 2012, o cardápio das mostras é farto. Pode-se escolher entre rever obras de diretores consagrados (Orson Welles, Ingmar Bergman, Milos Forman) e conhecer o que vem sendo filmado na Austrália, na Romênia, na Nigéria. Pode-se ainda experimentar o trabalho de cineastas de pouca penetração no país, como o canadense Pierre Perrault, ou prestigiar os centenários de Jorge Amado (1912-2011) e Nelson Rodrigues (1912-1980) pelos filmes derivados de suas obras.
- As mostras exercem a função que os cineclubes tinham no passado. Em que outro espaço seria possível ver, em tela grande, a obra completa de um diretor como Cacá, seguida por debates? - questiona Breno Lira, curador da retrospectiva do diretor de "Bye bye Brasil".
No Rio, o perímetro das mostras inclui ainda o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), o Arquivo Nacional, a Cinemateca do MAM (que, fechada para obras, reabre em 18 de abril) e o Instituto Moreira Salles, onde a obra de Fellini está sendo reapresentada desde 10 de março, com cópias restauradas.
- Não se trata apenas de atuar como uma sala de exibição. É preciso cercar os filmes de materiais ou ações para estimular uma relação com o cinema além do instante de projeção - diz o crítico José Carlos Avellar, curador do IMS. - A cada mês, fazemos um folheto com análises para encaminhar a visão dos filmes.
Em janeiro, o IMS abrigou uma das mostras de maior sucesso de 2012: Clint Eastwood - Clássico e Implacável.
- Numa mostra, é sempre um desafio conseguir cópias em película, mesmo com filmes recentes. Na mostra do Eastwood, das 34 cópias exibidas em película, só sete existiam no Brasil. "Fuga de Alcatraz", por exemplo, eu tive que buscar em um acervo na França - diz a curadora Gisella Cardoso.
No dia 10, o CCBB inicia a retrospectiva do cineasta nova-iorquino Abel Ferrara, cultuado por longas como "Vício frenético" (1992). Fora a gincana para trazer 11 cópias em película dos EUA, da Argentina e da França, o curador Julio Bezerra luta contra um imbróglio para exibir o filme mais recente de Ferrara: "4:44 Last day on Earth".
- Uma distribuidora uruguaia comprou os direitos do filme para a América do Sul, assinou o contrato, mas não pagou. Como ela já assinou o contrato, não podemos negociar os direitos - diz Bezerra.
Proliferação já causa distorções
Curador de mostras sobre David Lynch, Dario Argento e John Waters, Mario Abbade, presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio, diz que a proliferação do espaço de mostras vem criando distorções no setor.
- Muitos produtores sem especialização assumem a curadoria e elegem um diretor cult, exibindo sua obra na íntegra, até em DVD, sem uma seleção curatorial rígida. Com isso, aumenta a dificuldade de se aprovar eventos que têm por tema a carreira de atores, montadores e fotógrafos - diz Abbade, que prepara mostras com exposição de fotos sobre Steve McQueen, James Dean e Frank Sinatra. - Mostra é arte, não caça-níquel.
fonte:
http://br.noticias.yahoo.com/cinema-%C3%A0-mostra-ind%C3%BAstria-retrospectiva-110000741.html
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