domingo, 8 de abril de 2012

Cresce no Brasil número de filmes produzidos por canais de TV

RIO - Há alguns poucos anos, a revista inglesa "Screen", especializada na cobertura do mercado audiovisual, publicou uma reportagem sobre a divisão de filmes da HBO. Citando obras como "Casamento grego" (2002) e "Anti-herói americano" (2003), o texto dizia que a emissora americana era o coração pulsante do cinema independente dos EUA. 
Tirando um pouco do exagero típico do jornalismo, tratava-se da constatação de que um outro ator passava a ter um papel fundamental na produção de filmes: a TV.Os recursos de emissoras como a HBO, a inglesa BBC ou a francesa Canal+ têm sido essenciais para a realização de filmes internacionais de vários gêneros - e de repercussão - nos últimos dez anos. 
Para o cinema, além da verba de produção, os contratos oferecem espaço de publicidade na divulgação de um filme. Para a TV, a parceria garante de antemão exclusividade para exibir a obra patrocinada e também proporciona um marketing ao associar a marca de um canal a um filme.

No Brasil, a equação que une TV e cinema tem força desde 1998, com o surgimento da Globo Filmes, uma empresa que nasceu como braço da TV Globo e que já participou da produção de 110 longas nacionais, de documentários como "Cartola" (2007) a blockbusters como "Tropa de elite 2" (2010). 
O que vem mudando no cinema brasileiro, porém, é que outras emissoras têm seguido o exemplo, investindo sistematicamente em filmes, dando uma nova cara ao mercado.
- Nós já participamos de 55 longas-metragens entre projetos lançados e outros sendo produzidos, sendo que o primeiro foi "Loki" (2009) - diz André Saddy, gerente de marketing e projetos do Canal Brasil. - É uma maneira de estreitar a relação com o cinema e de trazer um conteúdo para o canal com exclusividade. Quando um filme roda festivais, ele já chega no canal badalado, há um interesse formado.
Entre os filmes coproduzidos pelo Canal Brasil, estão "Luz nas trevas - A volta do Bandido da Luz Vermelha", de Helena Ignez e Ícaro Martins, que estreia em maio; "Dzi Croquettes", de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, documentário vencedor dos prêmios de público e júri no Festival do Rio de 2009; e "Jogos da paixão", de Domingos Oliveira, ainda inédito.
Para investir num longa-metragem, o Canal Brasil procura obras que tenham relação com seu perfil de filmes de arte, justamente pensando em incluí-lo em sua grade após a exibição nos cinemas. A mesma lógica vale para o Telecine, mas com uma busca em direção oposta.
- A gente está à procura de blockbusters, com o objetivo de garantir conteúdo para o futuro - afirma Sovero Pereira, gerente de marketing do Telecine, canal que já entrou em coprodução com 15 filmes brasileiros, como "Os Normais 2" (2009) e "O palhaço" (2011), e já apoiou o lançamento de 160 longas nacionais e internacionais. - Os produtores de cinema às vezes estão mais interessados na mídia que $TV pode oferecer do que na verba para produção. Acontece que o espectador que assiste a um canal como Telecine é o mesmo que vai ao cinema.
Ainda neste ano, longas-metragens como "Paraísos artificiais", de Marcos Prado, e "E aí, comeu?", de Felipe Joffily, vão chegar aos cinemas com apoio do Telecine. Em todos os casos, do Canal Brasil ao Telecine, da Globo Filmes à HBO, a principal mudança é que o risco passou a ser um fator predominante para as TVs. 
Antes, uma emissora comprava os direitos de exibição de um filme apenas após verificar seu desempenho nas salas. Agora, ela adquire seus direitos de exibição antes do teste da bilheteria. Trata-se de uma aproximação salutar entre duas plataformas essenciais para a evolução do mercado.

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