Com o triunfo cinematográfico do filme francês O artista, de Michel Hazanavicius, uma nostálgica onda em preto e branco parece ter tomado conta do momento. O charme silencioso do cinema mudo caiu, novamente, nas graças do público, e não é de se espantar que um dos ícones do gênero, Charles Chaplin, seja tema de uma grande exposição — a maior já feita no mundo sobre ele, e que chega amanhã ao Rio, onde será inaugurada, às 18h, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica.
"De fato, há uma retomada desse tema, mas, no caso desta exposição, não é uma questão de nostalgia. Não para mim", diz o curador francês Sam Stourdzé, diretor do Musée de l’Elysée, em Lausanne, na Suíça. "Realmente acredito que Chaplin pode ser muito moderno e até contemporâneo.
O que ele fez continua muito atual. Seu envolvimento na política, como em O grande ditador (de 1940), ou sua abordagem da relação entre homem e máquina, em Tempos modernos (1936), são exemplos disso".
Reprodução/www.charliechaplin.com
Três anos de pesquisa
Chaplin e sua imagem é a primeira grande mostra concebida a partir dos arquivos da família Chaplin, que cedeu um raro e vasto material a Stourdzé. Durante três anos (de 2006 a 2009), ele mergulhou em dez mil imagens e documentos do artista para uma pesquisa apurada.
"O conceito da exposição não é biográfico, e sim temátio. Quis criar um diálogo entre as fotografias de arquivo e os filmes, e, neste sentido, minha ideia foi mostrar a construção de cada filme e o que acontecia por trás deles".
Dividida em quatro grandes temas (A criação de Carlitos, Chaplin como cineasta, Da fama ao exílio, e Fala Chaplin, morre Carlitos), a mostra já passou, além do Musée de l’Elysée, por outras instituições na Europa, como o Jeu de Paume, em Paris, e foi, em novembro do ano passado, para o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo — em sua primeira incursão pela América Latina.
A criação de Carlitos traz fotografias e trechos de filmes que reconstroem a imagem do principal personagem de Chaplin, e é possível notar que, em sua primeira exibição na tela, em 1914, Carlitos era uma figura mais trapaceira e antipática do que o vagabundo triste e solitário que ficou conhecido. Outro destaque da mostra é o módulo Chaplin como cineasta, em que por meio de fotografias de bastidores e pequenos making ofs de filmes, é possível perceber o perfeccionismo do diretor.
"Do que mais gosto desta exposição, além do fato de não ser óbvia, é de ficar observando o público rindo do que vê. Não é normal ouvir pessoas gargalhando dentro de um museu, e acho que isso é importante", reflete Stourdzé.
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