Os cineastas Karim Aïnouz, Sérgio Machado, Marcelo Gomes e a produtora Daniela Capelato são parceiros de longa data. Entre si, já dividiram o set de filmagens, colaboraram na redação dos roteiros ou na produção de seus filmes, mas este ano o coletivo se reúne para uma parceria inédita. Coordenadores do Laboratório de Audiovisual para TV – Cena 15, que integra o programa Porto Iracema das Artes - Escola de Formação e Criação do Ceará, os realizadores orientarão cinco pesquisas para série de televisão pelos próximos sete meses.
Com inscrições abertas até o dia 31 de julho, o Laboratório é uma das atividades do ano escolar lançadas no início deste mês pelo presidente do Instituto de Arte e Cultura, Paulo Linhares. Voltado para realizadores com certa experiência, a ideia é que o espaço sirva para o desenvolvimento de projetos criativos.
O cineasta e roteirista cearense Karim Aïnouz ressalta que um dos principais motivos para ter aceitado o compromisso é a inexistência de formação específica para roteirista, seja ele de cinema ou televisão. “Mas é importante colocar que o laboratório é mais um lugar de prospecção do que um edital para se fazer uma série de TV”, coloca.
Pelos próximos meses, cinco projetos contemplados receberão a orientação dos coordenadores. Segundo Karim, as propostas serão acompanhadas a partir do aprofundamento da dramaturgia e das demandas de produção. “Vemos que nos Estados Unidos e na Europa, as séries de TV viraram lugares de experimentação, onde o personagem acaba ganhando mais importância ou destaque que a própria trama. Aqui no Brasil, precisamos desmistificar esse raciocínio de que seriado tem a ver com novela”, sustenta Karim, que ministrou ontem, com a produtora Daniela Capelato, a oficina Cenas em Curso, para auxiliar na redação dos projetos para inscrição no Laboratório.
A diretora de formação do Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), Bete Jaguaribe, informou que a partir de amanhã o Porto Iracema das Artes segue com outras três oficinas preparatórias: Conversações (Pesquisa Teatral), Conversa Afinada (Música) e Sessões Visuais (Artes Visuais).
Essa coisa híbrida
No momento em que vemos cada vez mais atrações televisivas migrando para o cinema e telenovelas com estética mais apurada e aproximada do cinema, Karim sugere que é preciso repensar o modelo de criação para TV. “O que está acontecendo no Brasil, que acho muito triste, é a TV na tela grande, onde são exibidos uma série de filmes com estética da telechanchada. Seria tão bonito ver esse boom de talentos no Ceará, vindo dos cursos da UFC, Unifor, Vila das Artes, contaminar a TV com uma linguagem contemporânea, que fale do mundo agora. Essa geração tem um repertório audiovisual muito mais sofisticado: são pessoas que tiveram uma formação específica, muita informação pela internet. Então como fazer com que essas pessoas possam renovar a televisão? Estamos sempre trabalhando dentro de um terreno muito híbrido, da TV para o cinema”.
De acordo com a produtora Daniela Capelato, é preciso buscar novas alternativas para o padrão standart criado pela televisão brasileira. “O momento é propício para que a gente saia dessa lógica de mercado que não existe mais. Hoje no Brasil, ainda mais depois da Lei da TV por Assinatura (Lei 12.485), é hora de se pensar novos formatos, de reinventar a questão da dramaturgia na TV”, explica Daniela.
Ela ressalta que embora a Lei da TV por Assinatura tenha criado demanda e estimulado produtores independentes, faltam projetos de maior consistência. “Muitas das vezes, a pessoa escreve o roteiro em paralelo ao início das filmagens, por falta de tempo mesmo. O Laboratório permite que os realizadores mergulhem a fundo na escrita e, assim, possam discutir argumento, enfoque, abordagem, contexto de mundo”.
fonte:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2013/07/19/noticiasjornalvidaearte,3095106/nova-estetica-para-tv.shtml
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