Carlos Segundo está com dois filmes na Mostra de Tiradentes, levantando a discussão sobre a descentralização
Tiradentes. É estranho fazer uma entrevista por telefone quando se tem a oportunidade de se conversar tomando um café, algo cada vez mais raro no jornalismo. Mas quando o assunto foi levantado para Carlos Segundo do outro lado da linha – o diretor estava na ponte aérea –, a conversa fluiu na mesma medida que sua urgência. “Me interessa muito falar sobre a descentralização da produção. Ainda há no programa Filme em Minas uma participação pequena de realizadores contemplados que vivem e trabalham no interior”, explica ele, que no catálogo da Mostra de Cinema de Tiradentes está dividido entre as siglas MG e SP, com o longa exibido na sexta-feira, “Turn OFF”, e o curta “Poeira de Prata no Escuro do Quarto”, em cartaz hoje, às 16h15, na Mostra Panorama, no Cine-Tenda.
Ironicamente, Carlos Segundo está vivendo em São Paulo (onde nasceu). Ele cursa o doutorado em cinema pela Unicamp. “Paralelamente à minha produção, senti a necessidade de mergulhar em atividades acadêmicas. Foi um processo bastante planejado, mas a minha produtora, a Cass Filmes, continua em Uberlândia e não pretendo desativá-la. Talvez criar um braço aqui. Tenho um vínculo forte com Minas: meu primeiro longa de ficção, ‘O Herói Hesitante’, será feito em parte na cidade para fomentar a produção local e como forma de agradecimento a meus grandes amigos”, explica.
Com uma história relativamente recente no cinema, o diretor era, até 2007, professor de matemática. O desejo de trabalhar com arte surgiu após uma temporada na Inglaterra em 2004. Em Uberlândia, ele conheceu a professora de cinema Iara Magalhães e, após um curso na área, rodou o primeiro projeto audiovisual, “26 de Dezembro”. “Descobri minha paixão e decidi que faria ao menos um curta por ano pela minha produtora que, inicialmente, se chamava Etc. Fui contemplado no Doctv, e apenas em 2011 dei uma pausa nos pequenos filmes para realizar meu primeiro documentário, ‘No Fundo Nem Tudo É Memória’”, afirma Segundo, que ministrava cursos e oficinas na cidade do Triângulo Mineiro que, de acordo com ele, tem um desejo e uma vocação para realizar filmes.
“É preciso que haja um olhar mais sensível para o interior. Quando dava essas oficinas, comecei a mostrar resultados do êxito que os filmes podem ter com a participação e premiação em festivais e oficinas. O cinema pode ser produzido em qualquer cidade, especialmente graças ao digital. E essas cidades pequenas são o espelho de possibilidades muito interessantes, de histórias bem particulares”, acredita.
E o cenário vem melhorando com a presença cada vez maior de realizadores em eventos do gênero, e a Mostra de Tiradentes tem um papel muito importante nesse caráter de abertura e criação de módulos que ultrapassem a produção dos grandes centros. “Não é comum o mapeamento dessa produção no interior, mas acredito que podemos contribuir para o audiovisual. Não estamos falando de um cenário vazio, sempre houve uma boa produção em quantidade e qualidade. Uberlândia sempre produziu muitas riquezas para o Estado, e o cinema pode ser uma delas. Como em todos os anos, li com atenção o edital do governo mineiro para o incentivo ao audiovisual. A versão de 2014 se mostra mais sensível e cuidadosa. São modificações que vêm com o tempo”, pondera.
* A jornalista viajou a convite da Mostra
fonte:
http://www.otempo.com.br/diversão/magazine/incentivo-para-o-interior-1.781354
Nenhum comentário:
Postar um comentário