domingo, 15 de setembro de 2013

Novo cinema


A FORMAÇÃO EM AUDIOVISUAL trouxe para o setor características que colocaram o Ceará em contato com o restante do mundo: cineastas e coletivos locais produzem cinema que virou referência de produção contemporâne.





Aulas de Formação Básica de DJ, um dos cursos oferecidos pelo recém-inaugurado Porto Iracema das Artes - braço do formação do Centro Dragão do Mar, que também oferece cursos na linguagem audiovisual

Alguns números podem sugerir a dimensão do impacto do Instituto Dragão do Mar (1996-2003) para o setor do audiovisual: mais de 200 cursos e cerca de 3 mil alunos. Formou não apenas cineastas, mas também técnicos de câmera, edição, finalização. O investimento tinha um fim claro.

Ancorado num contexto de mudança simbólica na política estadual, o audiovisual – e mais especificamente o cinema – eram considerados fundamentais para a economia mundial. Descentralizar a produção e fomentar o início de uma indústria se tornava um imperativo.

De acordo com o pesquisador Alexandre Barbalho, no trabalho A Modernização da Cultura, em que estuda políticas para a linguagem nos governos Tasso Jereissati e Ciro Gomes, “dentro da política desenvolvida pela Secult de implantação e fortalecimento de uma indústria cultural local, o projeto do polo regional de cinema, transfigurou-se em política para a indústria do audiovisual”.

Acabou não se tornando realidade, mas abriu espaço para se repensar o audiovisual cearense – inclusive a necessidade de industrializá-lo.

Na época, a formação se devia em grande medida a uma ideia de política próxima ao que pensou o cineasta Glauber Rocha no Cinema Novo. Em outras palavras, um projeto de cinema que tentava pensar o Brasil.

A partir dali, foi se processando uma mudança de perfil formativo. O Alpendre (1999-2012) e, mais à frente, a Vila das Artes trazem com ainda mais força uma instrução baseada em coletivos, contemporânea e colaborativa.


Segundo o professor do Departamento da Pós-graduação em Comunicação da UFC, Silas de Paula, atualmente a política, que antes estava no jeito de filmar do Glauber, está ligada fortemente às poéticas contemporâneas, à estética.

Ou seja, a política não está condicionada ao modo específico de filmar o mundo, mas à própria dimensão da estética cinematográfica. Essa nova concepção de cinema acaba rompendo com a lógica que dominava anteriormente – muito mais baseada em grandes produções.

“Talvez seja muito mais importante o Cine Caolho (cineclube com exibição de produções cearenses), que dá 200 pessoas numa sessão para discutir a produção local, do que pensar um grande festival, que ainda era muito presente naquele início”, afirma a também professora da Pós-Graduação em Comunicação da UFC, Beatriz Furtado.

Assim, perdem força os festivais de Brasília ou Gramado e ganham, por outro lado, certo tônus muscular o festival de Tiradentes, que aposta em filmes geridos não sob a ótica da grande indústria.

Hoje, segundo ela, temos uma produção que se mantém aberta e em contato com outras cidades do Brasil e países diversos. É assim com o cineasta Leonardo Mouramateus, cuja cinematografia sofre influência da literatura e da dança, ou com os realizadores do coletivo Alumbramento – o primeiro, aluno do curso de Cinema da UFC; os últimos, muito marcados pelas experiências na Vila das Artes. No fim das contas, nosso polo de cinema é menos industrial e mais industrioso.

“Como sempre houve por trás da maioria desses processos de formação a prioridade no desenvolvimento crítico e intelectual dos alunos, há evidentemente a presença de pensamento crítico nas diversas áreas de atuação do audiovisual. Acho que esse é um diferencial na formação das pessoas aqui em Fortaleza”, afirma o cineasta Armando Praça, que foi aluno do Instituto.

Porto IracemaPara essa área, a escola Porto Iracema das Artes, inaugurada este semestre como um projeto vinculado ao Centro Dragão do Mar, tenta preencher uma lacuna de formação com o Cena -15 (Centro de Narrativas Audiovisuais) e o Laboratório de Audiovisual para TV.

Localizado no prédio onde antes era o Alpendre, Cena 15 tem por objetivo pensar narrativas de modo integrado entre linguagens. Além disso, o Laboratório investe para responder uma demanda até então ignorada.


“Os Laboratórios têm a função de qualificar projetos para enfrentar o mercado. Não abrimos mão da experiência de linguagem, porque só estabelece experiência cultural se investir nessa inovação”, afirma a diretora de formação e criação do Instituto de Arte e Cultura do Ceará, Bete Jaguaribe. 


fonte:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2013/09/14/noticiasjornalvidaearte,3128768/novo-cinema.shtml

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