O cidadão que inventou essa história de que ‘quem espera sempre alcança’ certamente nunca precisou recorrer a dinheiro público para produzir um filme em Alagoas. E quem resolver tomar essa máxima como filosofia de vida vai ficar esperando o ‘trem da alegria’ até o fim dos dias, sem sequer ter a chance de dar um beijo de boa noite nos netos. Num momento em que o cinema independente experimenta uma curva ascendente no Brasil, com curtas e longas-metragens ganhando espaço e visibilidade em regiões que vão além do eixo Rio-SP, profissionais em Alagoas se mobilizam para colocar a produção audiovisual local nesse circuito, abrindo picadas em meio à densa floresta da falta de compromisso com a cultura.
Pode parecer exagero, mas é nesses termos que realizadores de Alagoas vêm fazendo seus filmes serem visto por plateias de diversas regiões do país e até do exterior, como no caso do curta experimental Borboletas Delicadas, de Wladymir Lima, exibido no dia 25 de maio em Portland, Oregon, EUA. Entre os demais destaques da nova safra de curtas alagoanos que conseguiram visibilidade nos últimos meses estão A Banca, de Aloísio Correia e Wagner Sampaio, Fênix, de Anderson Barbosa e Pablo Casado, Exu – Além do Bem e do Mal, de Werner Salles Bagetti, Lixo, de Paulo André, O Que Lembro, Tenho, de Rafhael Barbosa, e 12h40, de Dário Junior, este último vencedor do prêmio de melhor filme para reflexão no Cine PE 2013 (veja quadro).
Fotografia em still de Criatura, filme de Alice Jardim e Nivaldo Vasconcelos: na seleção da Mostra Internacional de Videodança
Sobre esse momento particular de ebulição da produção local, o realizador de Borboletas Delicadas tem seu palpite: “Em primeiro lugar, porque os cineastas são talentosos mesmo. Mas, além disso, o mundo todo acompanha uma grande revolução tecnológica, que faz com que hoje em dia seja bem mais fácil tecnicamente se produzir um filme do que dez anos atrás. Com o advento das câmeras digitais de vídeo de alta definição, e sobretudo as câmeras DSLR digitais a custo cada vez mais baixo, o fazer cinematográfico está em plena transformação e expansão. Jamais se produziu tanto e tão diferentemente. Vivemos o que muitos teóricos já intitulam de pós-cinema, ou cinema pós-industrial, e caminhamos para o que o cineasta Jean Cocteau (1889-1963) um dia sonhou – que o fazer cinematográfico se tornasse tão simples quanto escrever com uma caneta”, teoriza Wladymir Lima.
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