sábado, 4 de agosto de 2012

Cena musical de Berlim vira livro




Em livro lançado na Europa, escritor francês descreve quase um século de música na capital alemã, dos clássicos ao hedonismo das raves








RIO - Théo Lessour encontrou uma história. E, através dela, uma outra. E mais outra, até ter um livro inteiro. Em “Berlin sampler — From cabaret to techno” (importado), o escritor francês descreve quase um século de música na cidade alemã, dos sons clássicos à atividade dos clubes de jazz em pleno nazismo, do rock em tempos de comunismo ao hedonismo das raves movidas pelo som eletrônico. (Acima, um dos muitos vídeos disponíveis no site do livro)
Descrito pela revista “Rolling Stone” como “um trabalho erudito que ajuda a entender a Berlim atual” e classificado pelo jornal “Libération” como “uma poderosa introdução à cidade pela música”, o livro começou quase ao acaso.
— Passei a adolescência ouvindo Nick Cave e Einstürzende Neubaten. Depois, Alec Empire e muito techno. Até que me toquei de que todos tinham relação com Berlim, assim como outros de que sempre gostei, como David Bowie e Iggy Pop — conta Lessour. — Comecei a escrever sobre o que me era familiar, sons dos anos 1980. Nas pesquisas, descobri os clubes de jazz, os cabarés... Foi como puxar um fio e não conseguir parar.
“Berlin sampler” é uma amostra de quase cem anos de música. Foi essa estética de síntese que o conduziu?
Sem dúvida. Não é um trabalho acadêmico, mas um mixtape em forma de livro. O que não quer dizer que não tenha havido uma enorme pesquisa de dois anos, só possível porque os alemães são muito organizados.
Você se mudou para Berlim para escrever o livro?
Sim. Senti que precisava estar ali para descrever melhor o que estava descobrindo. E tive que aprender a falar alemão. No fim, foi uma experiência transformadora.
Por que você considera Arnold Schoenberg e sua obra, “Pierrot Lunaire” (1912), como ponto de partida?
Porque, com ela, Schoenberg revolucionou a música, eliminando as relações tonais. E a aproximou dos cabarés. É um momento emblemático de quando a música clássica começa a ser confrontada pela modernidade.
Qual o papel dos musicais, movidos a jazz, e dos cabarés durante o regime nazista?
Eles representaram o início da cultura de festas que marca Berlim até hoje. Os nazistas queriam proibir o jazz, negro demais para eles, mas não conseguiam impedir que discos do gênero chegassem ao país. E foram esses discos que alimentaram uma subcultura que gerou festas ilegais, nas quais o regime era abertamente confrontado. Aquelas pessoas estavam arriscando suas vidas só para se divertir e esquecer o nazismo. O escapismo em Berlim sempre foi radical.
E, depois, como o rock conviveu com o comunismo?
Não houve uma convivência aberta. Afinal, para o regime comunista, a felicidade deveria ser controlada. Então, para que música popular? Os discursos de dirigentes comunistas em 1965, quando declararam o rock proibido, são espantosos. Mas o rádio furou o bloqueio e manteve o rock vivo, no underground.
Nesse contexto, como surgiu o krautrock?
Como uma versão local da psicodelia, com os jovens começando a viver em comunidades, experimentando drogas e buscando se expressar pela música. Não por acaso, muitos discos de krautrock, como os de bandas como Cluster e Ash Ra Tempel, têm músicas com mais de 20 minutos. A ideia de limites não era bem recebida.
Berlim também teve uma forte cena punk nos anos 1970. Por que ela não foi tão celebrada como as de Londres e Nova York?
Talvez porque os olhares não estavam tanto em Berlim naquela época. E também porque foi uma cena menor e possivelmente mais radical. A partir do lema “Faça você mesmo”, os punks criaram a ideia do diletante ingênuo. Daí lemas locais como “Não aprenda”, “Faça barulho”, “Dane-se a musicalidade”. A partir daí surgiram bandas como Neubauten, Tödliche Doris, MDK. Elas representavam um radicalismo que não havia em parte alguma, uma cultura de diversão até morrer que há até hoje.
Qual a importância de Berlim para artistas como David Bowie, Iggy Pop e Brian Eno? O que eles buscavam quando foram para lá nos anos 1970?
Refúgio. Berlim era quase uma não cidade, uma ilha dividida ao meio. Uma tela branca esperando algo ser escrito.
E de que forma o movimento techno dos anos 1990 atualiza o escapismo radical?
O techno surgiu em Berlim quase ao mesmo tempo em que o muro caiu. Uma sincronismo formidável. O techno dizia “chega de política, de falsas rebeliões e de palavras”. A cara da Berlim dos anos 1990, com muitos espaços vazios e liberdade. Pense na Love Parede. Mesmo que ela não exista mais, esse espírito das raves ainda está nos clubes e nas festas alternativas na cidade
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 sobrhttp://oglobo.globo.com/cultura/cena-musical-de-berlim-vira-livro-5647604#ixzz22c5g60RQ

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