segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Narciso Rodriguez OUTONO - INVERNO 2015 / 2016 na Semana de Moda de NY

O estilista dá uma cara super minimalista pro tema com silhueta que alonga o corpo – muita cintura alta, coletes e casacos um pouco acima do tornozelo mais neoprene, couro, seda e tricôs com cara de segunda pele. Apesar das peças com visual bem clean, o final do desfile conta com bordados florais e outros desenhos abstratos.

Clica na foto pra acessar a galeria!

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti
http://www.lilianpacce.com.br/desfile/narciso-rodriguez-outono-inverno-201516/

Cultura e conhecimento são ingredientes essenciais para a sociedade.


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Bloor West Village Toronto Ukrainian Festival


Since the 1880s, when immigrants from Ukraine to Canada embraced the opportunity to work, prosper and raise families in peace and freedom, Ukrainian culture has enriched the Canadian landscape in every facet of life. Today, over four million people in Canada can trace their heritage to Ukraine, and Ukrainian Canadians, by virtue of 120 years of contribution, are well organized and respected members of their communities. 



In 1995, Toronto was twinned with Kyiv, the capital of Ukraine, and to mark this occasion, the Bloor West Village Toronto Ukrainian Festival was established under the umbrella of the Ukrainian Canadian Congress - Toronto Branch. Originally known as the Bloor West Village Ukrainian Festival, it was meant to be a showcase of the most widely identifiable aspects of Ukrainian culture in Canada – music, dance, food, visual arts and community. It was an instant hit, establishing itself as one of the premier Ukrainian festivals in North America and growing to attract audiences well in excess of 500,000 from across Canada, the US and abroad. 

The Festival takes pride in turning its spotlight on contemporary professional and amateur artists and performers from North America and Ukraine, and in celebration of Toronto’s diversity, invites a local performing group representing another culture to bring its talents to the main stage each year. 

Throughout its history, the Festival has hosted prime ministers and other politicians from all levels of government. The parade that launches each Festival has been led by marshals including the Rt. Hon. John Turner, businessman and philanthropist James Temerty, music legend Randy Bachman, investigative journalist Victor Malarek, Senator Raynell Andreychuk, media celebrities Luba Goy, Mimi Kuzyk and Ted Woloshyn, community activist Maria Szkambara, former vice-president of TorStar and Metroland Media Group Ron Lenyk, celebrity chef Ken Kostick, Ottawa Senators owner Eugene Melnyk, and former Ontario Education Minister Gerard Kennedy.

The Festival’s main stage has seen top performers from Ukraine including Ruslana, Vopli Vidopliassova, Mad Heads XL, Mandry and Pikardiska Tersia, as well as The Ukrainians from England, Canada’s many Ukrainian dance companies such as Barvinok, Desna and Rusalka to name a few, and bands such as Edmonton’s Kubasonics and many others.

The Bloor West Village Toronto Ukrainian Festival also has provided an opportunity for outreach to those who have taken part in the parade, the stage and the kiosk areas, including the Canadian Armed Forces, the Scotiabank Run, the Ukrainian Collective of Artists, university student clubs, dance groups, choirs, sports and martial arts clubs, and local, municipal and federal politicians. As a result, it attracts diverse audiences of multi-generational families. Repeat visitors are a mainstay, as evidenced in bookings at the Festival’s host hotels, from letters and emails, and from the reports of local business owners and street vendors.

The Festival has a Board of Directors and a committee of organizers whose members bring their diverse experiences and ideas to the table. Some volunteer in other festivals such as Harbourfront and the Toronto International Film Festival, as well as in industry meetings, seminars and tourism conferences. The Bloor West Village Toronto Ukrainian Festival is a member of Ontario Tourism, Tourism Toronto, Festival and Events Ontario, SOCAN and the Ukrainian Canadian Congress - Toronto Branch.

@edisonmariotti #edisonmariotti http://www.ukrainianfestival.com/about.htm

colaboração: 

Irma Arevadze

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Curta feito por jovens da periferia de SP é eleito para festival em Londres.

Cena do curta "Samba e Silêncio", feito por 14 jovens da periferia de São Paulo como trabalho final de um curso gratuito de cinema Divulgação


É Nóis na Fita


Um curta-metragem feito por 14 jovens da periferia de São Paulo, como trabalho final de um curso gratuito de cinema, sequer estreou nas salas do país e já foi selecionado para integrar um festival em Londres, que acontece até o dia 5 de setembro. O filme "Samba e Silêncio", dirigido por Bianca Martino, 19, será exibido no InShort Film Festival como parte da mostra "Brazil in Focus", que inclui outros cinco curtas nacionais: os documentários "Meu Guri – Além do Castigo" (2014) e "Proibidão" (2012), as ficções "Nego" (2011) e "A Rua É Pública" (2013), e o experimental "Maldito Judim" (2010).

A trama, de pouco mais de cinco minutos, apresenta uma família (a mãe, Cida, e o filho, Jonathan) que enfrenta a perda do pai, Tião, morto de forma repentina. O homem deixou a rádio comunitária que comandava e uma mulher em depressão, que coloca um disco na vitrola para manter vivas suas lembranças. O filho resolve, então, continuar a trajetória do pai e dar um novo ânimo à mãe.

A trilha do filme, embalada pela música "Por um Fio", interpretada pelo grupo paulistano Filarmônica de Pasárgada, resume em seus versos a essência da história: "Saiu, nem me deu adeus, sumiu. Nem bateu a porta, viu. Nem levou o que era seu. Eis o nó do nosso amor, só por um fio. E agora meu samba é silêncio". "Primeiro pensamos numa música do Cartola chamada 'Corra e Olhe o Céu', só que ia ficar muito complicado por causa dos direitos autorais. Essa banda era mais acessível", conta a roteirista Marina Carafini, 20.

"Samba e Silêncio" foi rodado em um único sábado de novembro, em três locações no Brás. A equipe trabalhou com atores profissionais, mas contou com a boa-vontade da caseira da Escola Estadual Padre Anchieta, onde o curso de dois meses foi ministrado, para filmar na casa dela, no terreno do próprio colégio. "Não podíamos nos deslocar muito, por conta dos equipamentos. E a dona Ana cozinhou para nós, fez um macarrão excelente. Ela aparece nos créditos finais de agradecimento", conta Marina.

Dramas e sonhos

Além de passar no festival de Londres, "Samba e Silêncio" e mais dois curtas ("Isabela" e "Sobre Viver") feitos por alunos do curso É Nóis na Fita --aberto no início de 2014 em São Paulo-- estarão presentes no Festival Cine Inclusão, de 9 a 19 de setembro, no Memorial da América Latina, em São Paulo. O evento vai reunir 26 curtas-metragens (documentários e contos ficcionais) assinados coletivamente, cuja temática se concentra na realidade, nos dramas e sonhos de jovens da periferia paulistana. Na programação também há filmes de países como Argentina, México e Colômbia, e outros dois curtas nacionais ("Meu Guri - Além do Castigo" e "Maldito Judim") vão passar tanto no Memorial quanto no festival inglês.

"Quando fomos escolhidos para o Cine Inclusão foi uma felicidade, a gente achava que o filme não seria visto em lugar nenhum. E a gente nem tinha noção de que estava concorrendo para passar em Londres. Gostaria muito de saber o que eles vão achar, porque não vou estar presente", diz Marina. "E a banda também, que ainda é iniciante e nunca foi para fora do país, agora vai", completa a estudante, que pretende fazer no futuro um documentário para a avó. "Ela brincava num rio perto de casa que está enterrado, mas ainda consigo ouvi-lo. Penso em fazer algo para resgate de memória. São Paulo não tem mais água, mas está cheia de córregos soterrados", conta ela, que é moradora da Vila Matilde, na zona leste.

Para Marina, os jovens da periferia e outros grupos que não têm tanta representatividade social precisam se retratar mais nas telonas. "Temos que falar sobre nós mesmos, não existem esses temas no cinema de massa, e aí você não aproxima, não cria empatia com o público. Quando alguém se identifica com a nossa história e se reconhece nela, é possível inspirar a mudança, fazer algo diferente", analisa Marina. A diretora Bianca concorda: "Acredito que no Brasil há produções muito diversas, de diferentes estados e realidades, mas não temos acesso a toda essa variedade. Os poucos cinemas aqui na zona leste, por exemplo, passam no máximo cinco filmes por vez, quase todos blockbusters de Hollywood. Essa limitação é prejudicial, pois, se eu não tenho conhecimento, como posso saber se gosto ou não?".

Nova turma

Criado no início de 2014, o curso É Nóis na Fita atende jovens carentes de 15 a 20 anos de toda São Paulo. Por ano, são formadas cinco turmas de 25 alunos cada, que têm aulas por nove finais de semana. No ano passado, o resultado foi a produção de dez curtas-metragens com cerca de cinco minutos, exibidos no Cine Livraria Cultura no início de 2015.

Idealizado há sete anos, o projeto é coordenado pela diretora, roteirista e atriz Eliana Fonseca --a Cacilda de "Rá-Tim-Bum", a babá de Nino em "Castelo Rá-Tim-Bum", da TV Cultura, e atualmente no ar como Oneida de "Chapa Quente", da Globo. "Fazemos uma seleção pela internet e prova presencial, com dinâmica. Temos oito professores da USP (Universidade de São Paulo) e do Senac, fora os convidados, e dez monitores", diz Eliana.

A próxima turma do curso será na Associação Escola da Cidade, centro de São Paulo, e está com inscrições abertas até o dia 6 de setembro. "Muitos chegam aqui querendo fazer filmes épicos, de 'Ben-Hur' para cima. Mas aí buscamos aguçar o olhar, ensinar a linguagem cinematográfica, trabalhar o poder de síntese e o mundo em volta deles, com temas como sexualidade, superação, dificuldades para vencer na vida, falta de estrutura", explica Eliana.

"Esses meninos estão sedentos por informação, oportunidade, mostram até mais interesse do que outros alunos. A maioria quer seguir carreira, apesar de não ir muito ao cinema, que é caro. Acabam vendo na TV, em DVD ou baixando na internet", diz a coordenadora do É Nóis na Fita. "Como fruto do curso, alunos do CEU Quinta do Sol, na zona leste, já abriram uma microprodutora independente".
fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti 
Made In Brazil Entertainment
http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2015/09/02/curta-feito-por-jovens-da-periferia-de-sp-e-eleito-para-festival-em-londres.htm

"0s homens têm que aprender a ficar na sombra", diz Anna Muylaert -- Cláudio Assis e Lírio Ferreira são banidos de atividades da Funaj por postura em debate de 'Que Horas Ela Volta?' em Recife.

Muylaert, Regina Case e Camila Márdila. Três mulheres protagonizam o sucesso do filme Que Hoi'cis Ela Volta?, premiado em Sundance, no Festival de Berlim e cotado para representar o País no Oscar. Apesar disso, o destaque feminino não foi respeitado no debate promovido no último sábado, 29, pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Cinema do Museu, no Recife. Presentes a comité da própria diretora, os cineastas pernambucanos Cláudio Assis e Lírio Ferreira tumultuaram o debate ao interromperem insistentemente as falas da diretora, dos organizadores e questões da plateia.







Segundo a organização, Cláudio não estava escalado para fazer parte da mesa e no entanto subiu no palco com a diretora, tomou o microfone e falou do filme que Anna fará com ele. "Com esse filme, venho sentindo que caí numa zona mais ou menos masculina. Tenho sentido os homens tentando me ofuscar em várias situações, como se o brilho feminino fosse algo perigoso", incomoda-se a diretora Anna Muylaert.

Fundação Joaquim Nabuco / Ministério da Educação


NOTA
A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) informa que. diante do comportamento lamentável dos cineastas Cláudio Assis e Lírio Ferreira no Cinema do Museu, no último sábado (29), não permitirá qualquer evento envolvendo os dois realizadores, e suas respectivas produções, em qualquer espaço da Fundaj. A punição tem validade por um ano.

Em respeito ao público e prezando pela promoção da Educação e da Cultura, de forma democrática, a Fundaj reafirma seu compromisso com a qualidade e o respeito aos seus diversos públicos.

Em relação à represália, Anna diz ter dois sentimentos. "Como pessoa, acho humilhante para com meus amigos. Como cidadã, acho importante, porque realmente não é direito deles". Disse também que muitas pessoas ficaram satisfeitas com a medida, que segundo ela serve para esclarecer onde começa o machismo. "Não é o caso de demonizar. É preciso partir do episódio para discutir ideias. A discussão é muito maior do que eles".

A jornalista pernambucana Carol Almeida e o diretor de arte do filme, Thales Junqueira, presentes no debate, também comentaram o acontecido nas redes sociais. "Detesto linchamentos, aquela síndrome generalizada de Carandiru, punitiva, violenta e tantas vezes cega. Conheço Lírio há muitos anos e adoro ele. Lírio realmente é um cara doce, gentil, amoroso, que está passando por um momento difícil e que precisa da ajuda dos amigos. Mas o que aconteceu 110 Cinema do Museu não foi apenas falta de respeito, de educação, foi machismo também. Imagino que isso não teria acontecido se o debate fosse com um diretor homem amigo. Será que eles teriam atrapalhado um debate de Felipe Barbosa? Ou de Kleber Mendonça? questionou Junqueira em seu perfil pessoal.


Regina Casé interpreta Val em 'Que Horas Ela Volta?',
 'mulher do povo' que a atriz se diz orgulhosa de interpretar

Alina, que tem viajado muito na divulgação de Que Horcis ela Volta?, descreve outras situações similares em que seu protagonismo como diretora tem sido secundarizado, no Brasil e no exterior. "É uma questão nacional e mundial. Em Hollywood também, as mulheres estão falando [referência ao discurso da atriz Patrícia Arquette no Oscar deste ano]. Não dá mais, as mulheres vão brilhar sim, não vão ficar em casa. E os homens têm que aprender a ficar na sombra, a ouvir, não só a falar. As mulheres aprenderam a falar e eles vão ter que se conformar", diz a diretora. "No início do cinema, quase só tinha mulher. Quando começou a dar dinheiro, as mulheres foram expulsas. 0 mundo do dinheiro é masculino. Quando meu filme vendeu e cresceu, pequenas coisas passaram a me fazer sentir que sou intrusa. É como se ninguém soubesse muito bem como lidar comigo agora".


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fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti

colaboração:
Roseli Biage 


JULIANA DOMINGOS DE LIMA • ESPECIAL PARA O ESTADO DE S. PAULO
http://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,os-homens-tem-que-aprender-a-ficar-na-sombra--diz-anna-muylaert,1753933

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Filmes utilitários, amadores, órfãos e efêmeros: repensando o cinema a partir dos ‘outros filmes’

Os estudos de cinema têm vindo a construir-se, em larga medida, em torno do filme de ficção, dentro de um paradigma predominantemente estético, autoral e nacional. Apesar de constituírem a maior parte da produção mundial, os filmes de não-ficção – uma categoria alargada, de metragem variada, que inclui gêneros tão díspares como o filme de viagem, o filme utilitário e ‘efêmero’ (industrial, turístico, educativo, publicitário), o filme de atualidades, o filme amador e doméstico e os chamados filmes 'órfãos' – têm sido sistematicamente marginalizados ou mesmo excluídos das várias histórias e historiografias do cinema, nacionais e internacionais.



Em Portugal, a importância desta vasta produção para a sobrevivência da indústria cinematográfica não a impediu de se tornar, na expressão de Paulo Cunha, num ‘cinema invisível’ (2014). As recentes melhorias no acesso a arquivos de imagem em movimento, bem como a crítica do paradigma estético dominante, a favor de abordagens ‘historicamente mais neutras’ (Stephen Bottomore, 2001), têm vindo a encorajar a investigação deste ‘território não-cartografado’ (Daan Hertogs e Nico de Klerk, 1997), resultando num aumento significativo de publicações nesta área.

Este dossiê temático da Aniki pretende reunir artigos que discutam, não apenas questões diretamente relacionadas com estes filmes – como é que podem ser investigados e para quê; quais os problemas que suscitam em termos teóricos e metodológicos; como podem ser programados – mas também aspectos relacionados com o campo em si – nomeadamente, como é que a atenção a novos objetos de estudo poderá implicar novas formas de conceber o cinema e a sua história. Ou seja, como é que podemos repensar o cinema a partir dos ‘outros filmes’?

Contributos vindos de áreas como os estudos de cinema, os estudos culturais, a história, a sociologia e a antropologia serão bem vindos. Será dada prioridade a casos de estudo originais e bem fundamentados, provenientes de vários arquivos e cinematografias.

Os artigos recebidos serão sujeitos a um processo de seleção e de revisão cega por pares. Antes de submeter o seu artigo completo, consulte as Políticas de Secção e as Instruções para Autores.


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Sofia Sampaio, Raquel Schefer e Thaís Blank coordenam, desde 2013, o grupo de trabalho ‘Outros Filmes’ da AIM.

Sofia Sampaio é Investigadora Auxiliar no Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), onde integra o grupo de investigação ‘Práticas e Políticas da Cultura’. Tem publicado em várias revistas científicas nacionais e internacionais, tais como: Textual Practice; Journal of Tourism and Cultural Change; Etnográfica; Cadernos de Arte e Antropologia; Ler História; Culture Unbound: Journal of Current Cultural Research; Scope: An online Journal of Film and Television Studies; Cinema: Journal of Philosophy and the Moving Image. Atualmente é Investigadora Principal do Projeto ‘Atrás da câmara: práticas de visualidade e mobilidade no filme turístico português’ (EXPL/IVC-ANT/1706/2013), financiado por fundos nacionais através da FCT/MCTES.

Raquel Schefer é investigadora, realizadora e programadora de cinema. Doutoranda em Estudos Cinematográficos na Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris 3, finaliza uma tese dedicada ao cinema revolucionário moçambicano. Mestre em Cinema Documental pela Universidade del Cine de Buenos Aires, publicou a sua tese de mestrado, “El Autorretrato en el Documental”, na Argentina, em 2008. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, é atualmente membro do comité editorial das revistas La Furia Umana e General Intellect. Publicou artigos em revistas nacionais e internacionais, tais como: Aniki; Cibertronic; Débordements; Imagofagía; La Clave; LaFuga; Kronos: Southern African Histories; Le Journal de la Triennale; Poiésis; Textos e Pretextos; Visaje, entre outras.

Thais Blank é investigadora, montadora e realizadora. Doutoranda em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (2011) em regime de cotutela com a Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. É mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ (2010). Possui graduação em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2007). Atualmente é supervisora do Núcleo de Audiovisual e Documentário do CPDOC/FGV. Possui artigos publicados em revistas nacionais e internacionais, tais como: Devires; Laika; Significação; Doc On-line; História da Mídia, entre outras.


Dossiê Temático: Outros Filmes
Prazo: 31 dezembro 2015
Editores: Sofia Sampaio, Raquel Schefer e Thaís Blank

fonte: @MadeinBrazil @edisonmariotti #edisonmariotti  aim.org.pt/aniki/

sábado, 1 de agosto de 2015

10º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo



O Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo nasceu em 2006, quando respondíamos pela Secretaria de Estado da Cultura. Em sintonia com a Fundação Memorial da América Latina, lançamos sua semente com a proposta de contribuir para a evolução do papel protagonista que a cinematografia da América Latina então experimentava. Tínhamos como foco a troca de informações para possíveis ações conjuntas, no sentido de consolidar e melhor compreender a produção audiovisual da região. 



Nesta década de existência que comemoramos agora, o festival lançou mão de muita criatividade para realizar suas edições. Esforço gratificante. Dez anos depois, o evento torna-se referência internacional como espaço de exibição e discussão dos caminhos do audiovisual da América Latina e do Caribe. 

Resistência e criatividade também são marcas de nossa atuação na Fundação Memorial da América Latina, iniciada no final de 2012. Uma gestão marcada pela determinação em recuperar o essencial dos sonhos de Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer. E seguir o interesse pela América Latina por parte dos diversos governos do estado de São Paulo, mesmo antes da criação do Memorial (1989), até os dias de hoje. E essa criatividade, aliada à ideia de parcerias, mais do que nunca se faz necessária. O mais recente sucesso dessa conjunção foi, em junho deste ano, o show em homenagem ao cantor Cazuza, que trouxe cerca de 40 mil pessoas para nossa Praça Cívica. Evidência de que o Memorial se afirma como o grande Espaço Público da Cultura Latino-Americana em nosso estado, em nossa cidade, em nosso país. 

O Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo também abrilhanta nossa Praça Cívica. Assim como em 2014, nela acontecem projeções, em tenda cuidadosamente aparelhada para tal. Os debates e encontros são realizados na Biblioteca Latino-Americana, enquanto o credenciamento, a convivência e as confraternizações têm lugar na Galeria Marta Traba. Faço aqui um registro especial às diversas parcerias e apoios que muito nos honram, como a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, a Secretaria Municipal de Cultura, Petrobras, Sabesp, Sesc, Prodesp, Cinemateca Brasileira e Cinusp. A todos, nossos sinceros agradecimentos.

Assim, pelo décimo ano consecutivo, diretores, produtores, acadêmicos e outros profissionais do mercado se unem a cinéfilos apreciadores do cada vez mais elogiado e premiado cinema realizado por toda a nossa querida América Latina. Um ótimo festival a todos! 

João Batista de Andrade
Presidente 


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¡Diez años! 

El Festival de Cine Latinoamericano de São Paulo nació en 2006, cuando respondíamos por la Secretaría de Estado de la Cultura. En sintonía con la Fundación Memorial de América Latina, lanzamos su semilla con la propuesta de contribuir con la evolución del papel protagonista que en aquel momento experimentaba la cinematografía de América Latina. Nuestro enfoque era el intercambio de informaciones para posibles acciones conjuntas, en el sentido de consolidar y entender mejor la producción audiovisual de la región. 

En esta década de existencia, que ahora conmemorarnos, el festival usó mucha creatividad para realizar sus ediciones. Pero fue un esfuerzo gratificador. Diez años después, el evento pasa a ser referencia internacional como espacio de exhibición y discusión de los caminos del audiovisual de América Latina y del Caribe. 

La resistencia y la creatividad también son marcas de nuestra actuación en la Fundación Memorial de América Latina, comenzada a finales de 2012. Una gestión señalada por la determinación de recuperar lo esencial de los sueños de Darcy Ribeiro y de Oscar Niemeyer. Y acompañar el interés en América Latina por parte de los diversos gobiernos del estado de São Paulo, antes incluso de la creación del Memorial (1989) hasta la actualidad. Esa creatividad, unida a la idea de alianzas, se hace necesaria más de lo que lo fue nunca. El más reciente éxito de tal conjunción fue la realización, en junio de este año, del show en homenaje al cantante Cazuza que trajo a casi 40 mil personas a nuestra Plaza Cívica, una evidencia de que el Memorial se afirma como el gran Espacio Público de la Cultura Latinoamericana en nuestro estado, en nuestra ciudad y en nuestro país. 

El Festival de Cine Latinoamericano de São Paulo también da brillo a nuestra Plaza Cívica. Así como en 2014, en ella se realizan proyecciones, en una carpa cuidadosamente preparada para esa función. Los debates y encuentros se realizan en la Biblioteca Latinoamericana, mientras que el registro, la convivencia y las confraternizaciones se realizan en la Galería Marta Traba. Quiero hacer una mención especial a las diversas alianzas y apoyos que tanto nos honran, como los que tenemos con la Secretaría de Estado de la Cultura de São Paulo, Secretaría Municipal de Cultura, Petrobras, Sabesp, Sesc, Prodesp, Cinemateca Brasileira y Cinusp. A todos ellos, nuestro sincero agradecimiento. 

De tal forma, por el décimo año consecutivo, directores, productores, académicos y otros profesionales del mercado se unen a cinéfilos apreciadores del cada vez más elogiado y premiado cine realizado por toda nuestra querida América Latina. ¡Les deseamos un excelente festival a todos! 

João Batista de Andrade
Presidente


terça-feira, 28 de julho de 2015

Como o cinema chegou a crianças de aldeias africanas pelas mãos de um português

O português João Meirinhos anda pelas aldeias mais recônditas de África e Ásia a projetar filmes para crianças. Muitas assustam-se com os dragões das animações






Ainda faltam três mil quilómetros para chegarem a Ulan Bator, a capital da Mongólia, e o termómetro do camião já se aproximou dos 40 graus. João Meirinhos atende a chamada da VISÃO enquanto percorre os arredores de Omsk, na Sibéria, numa estrada longa e sem história, deserta de humanidade. A bordo do camião 4x4 Magirus Dentz, de 1975, que já foi carro de bombeiros na Alemanha e transportou aviões de salvamento para ralis no deserto do Saara, além do antropologista visual nascido em Lisboa, há 30 anos, viajam os italianos Davide, músico e motorista, e Francesca, fotógrafa e clown, que tem tatuado no ombro "o essencial é invisível aos olhos", uma citação de O Principezinho, de Saint-Exupéry.

"Nas últimas três semanas temos guiado cerca de dez horas por dia, entre 400 e 500, no máximo, porque as estradas têm muitos buracos. Ontem por exemplo, demorámos duas horas para fazer 60 km", conta João para quem foi "interessante" falar em português outra vez. Desde 2009 está habituado a pensar em italiano, falar espanhol e francês e pesquisar em inglês na internet. Os outros cinco voluntários seguem noutros dois camiões. Trata-se de Francisca, animadora social e relações públicas de Espanha, e dos franceses Erwan, performer de circo, Lola, editora de vídeo que trata dos contactos com os orfanatos e escolas, Eva, coordenadora do projeto e habituada a trabalhar na área da educação, e Thomas, realizador e coordenador.

Andam na estrada desde abril e já fizeram 30 sessões de cinema em aldeias no meio de nenhures: 15 na Roménia, 5 na Bulgária e na Turquia, 4 na Geórgia e uma na Rússia. "A globalização é o tema principal dos documentários não verbais que mostramos [Home, Baraka ou Microcosmos], cujos direitos de exibição nos foram doados pelos realizadores. Foi a pôr gasolina no gerador durante uma projeção que nos apercebemos que era uma contradição passar filmes sobre ecologia e depois utilizar gasolina para os mostrar. Comprámos mais painéis solares e baterias e agora somos independentes nesse sentido", esclarece João.

Foi precisamente o desperdício de dinheiro de uma sociedade consumista que fez com que João Meirinhos, ao terminar o curso de Ciências da Comunicação na variante de Cinema e Audiovisual, se interessasse por voluntariado. Ainda estagiou numa produtora de cinema publicitário, mas em 2009 fez-se à estrada quando um dos seus companheiros de Erasmus, em Itália, o desafiou: "Vamos fazer cinema com as crianças em África." Mais tarde, criaram uma joint-venture entre os franceses da Lèzards Migrateurs e os italianos da ONG Bambini Nel Deserto. Em 2011, passou por 22 países em dois continentes. Em 2012 voltou a Manchester para um mestrado em Antropologia Visual. "Sou um filho dos ideais de Abril.

Fui educado rodeado de cultura e arte como princípios básicos para o desenvolvimento. E isso nunca mudará. Esta iniciativa claramente não é um emprego, mas sem dúvida que dá muito trabalho."

Aventuras 'on the road'

Para os oito voluntários, todas estas viagens são uma troca inesperada. "É preciso não recear o acaso mas aproveitá-lo. Até agora os melhores momentos foram sempre quando a nossa aparição é uma surpresa, para ambas as partes", partilha João Meirinhos. Tanto em África como na Ásia Central, o facto de serem europeus é imediatamente associado a riqueza. "No Saara usávamos calendários pornográficos e bolas de futebol como moeda de troca para que nos deixassem em paz. Pormenores como bandeiras de cada país, uma foto de Meca ou do presidente Putine a cumprimentar Berlusconi podem evitar problemas. É útil conhecer o vocabulário básico e manter a calma", explica o português.

No meio de tantas aventuras, já teve miúdos a mastigar os restos dos seus ossos de frango; percebeu que um preservativo custa mais que uma prostituta; teve nove furos numa semana devido aos 50 graus do asfalto; já lhe ofereceram uma criança, para trazê-la para a Europa, mas fizeram uma coleta entre todos e por 50 euros ela pôde ir, pela primeira vez, à escola, durante um ano; e, por fim, o grupo decidiu "viver como um burkinabé", com menos de um euro por dia. "Acho que nem duas semanas aguentei a comer sempre a mesma coisa, arroz com molho de amendoim e um pouco de gordura de carne... O Davide foi para o hospital com paludismo. Onde a pobreza é mais extrema é onde ninguém já profere uma queixa", descreve.

Durante as sessões de cinema, são inúmeras as reações dos mais pequenos. No Burkina Faso, por exemplo, gritam quando veem um dragão numa das animações. Projetar a imagem de um camião que passa por cima de uma câmara no chão é meio caminho andado para todos fugirem, pois o efeito 3D fá-los pensar que vão ser atropelados. Na caravana há tempo para tudo, desde criar uma estação de painéis solares para dar energia a uma bomba de água num oásis no sul de Marrocos até organizar uma oficina de mecânica para "rapazes de rua" aprenderem um ofício. Mas nem tudo é um mar de rosas.

João e os sete companheiros já apanharam alguns sustos. O momento de maior stresse deu-se ao atravessarem a fronteira entre Marrocos e a Mauritânia. Foram atraídos a uma armadilha de areia e o camião ficou atolado.

"Surgiram mais de vinte homens aos gritos, em árabe, no meio do nada. Queriam 300 euros para nos ajudarem a desenterrar o camião. Conseguimos fechar negócio por 150 e passámos umas boas três horas até sair dali", relembra João. Em Bamako, capital do Mali, foram raptados por uma espécie de "Unidade de Bons Costumes Islâmica", depois de um dos amigos de João Meirinhos urinar na rua. "Saem uns homens encapuçados com metralhadoras de dentro de um jipe e levam-nos. Quando começaram a 'pescar' mais gente pela rua comecei a perceber o que se passava. Procuravam pessoas 'fora de conduta'. Queriam 7 000 SEFA (8 euros). Acabaram por aceitar os 5 000 que tinha no bolso e ainda nos deram uma boleiazinha para mais perto do acampamento." Se a campanha de crowdfunding chegar a bom porto (indiegogo.com/projects/solar-powered-cinema-mission-mongolia#/ story), conseguirão angariar 3 600 euros até 2 de agosto, e levar a sua sala de cinema itinerante para a China e para a Índia. Ainda há muitas crianças espalhadas pelo mundo à espera de ver cinema pela primeira vez.

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti
Sónia Calheiros (artigo publicado na VISÃO nº1168 de 23 de julho) 
http://visao.sapo.pt/como-o-cinema-chegou-a-criancas-de-aldeias-africanas-pelas-maos-de-um-portugues=f826389#ixzz3hEOHFrC9

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O longa-metragem norte-americano e independente "Tangerine", filmado unicamente com a câmera traseira de iPhones em vez de caros equipamentos cinematográficos, está conquistando a opinião da crítica.

O filme acaba de estrear em salas comerciais dos Estados Unidos e, depois de passar pelo Festival de Sundance, não para de acumular elogios.








O filme se passa em Hollywood durante uma véspera de Natal e conta a história de duas prostitutas transsexuais que procuram por um rapaz que traiu uma delas. Confira aqui mais detalhes sobre a produção e o processo de filmagem.

Na verdade, o diretor Sean Baker não filmou tudo apenas apontando o celular na direção dos atores. Além de lentes especiais e o aplicativo Filmic Pro para controles técnicos especiais, ele adquiriu o protótipo de um adaptador que se conecta à lente do celular e dá ao conteúdo filmado um estilo mais cinematográfico. Na pós-produção, as cores foram aprimoradas e o visual fica bastante saturado e cheio de grãos, quase uma caricatura de Hollywood. Ainda assim, o equipamento "base" é o smartphone da Apple.


Foram utilizados dois iPhone 5S para gravação. Um suporte para a mão (o Smoothee) foi comprado para garantir um enquadramento estável e, quando era necessário mover a câmera de maneira fluida na horizontal, o diretor andou de bicicleta pelo cenário apontando o dispositivo para a cena.

Antes de partir para o "Luz, câmera, ação!", Baker estudou curta-metragens gravados com o iPhone e passou horas assistindo a vídeos no Vimeo. Em seu filme de estreia, Baker usou uma câmera digital da Sony com lentes especiais para criar um estilo "anos 70". Para "Tangerine", ele utilizou somente US$ 120 mil como orçamento total. O filme não tem previsão para ser lançado no Brasil.

É curioso notar como o "preconceito" contra fotos tiradas no celular, mesmo para uso profissional, está cada vez menor: uma foto de iPhone até já foi capa de revista nos EUA.

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://www.tecmundo.com.br/iphone/83589-filme-gravado-iphones-lugar-cameras-sucesso-critica.htm?utm_source=facebook.com&utm_medium=referral&utm_campaign=thumb

segunda-feira, 20 de julho de 2015

O TRABALHO NA TELA: MEMÓRIAS E IDENTIDADES SOCIAIS ATRAVÉS DO CINEMA

SEMINÁRIO INTERNACIONAL || 12-13 NOVEMBRO 2015: “O TRABALHO NO ECRÃ: MEMÓRIAS E IDENTIDADES SOCIAIS ATRAVÉS DO CINEMA”

Cena de Febre de Rato, Cláudio Assis (Brasil, 2011)

CALL FOR PAPER

O trabalho nas sociedades contemporâneas tem vindo a sofrer, desde o início do século XX, processos vários de mudança que, com o contexto atual de crise econômica e emprego, exigem equacionar a estruturação das identidades que sobre o trabalho se constroem e modificam.


Durante este período, o cinema tem sido um veículo privilegiado na criação e disseminação de representações do trabalho, e como tal, na formação de memórias sociais. Tem constituído um canal privilegiado na construção de narrativas de memórias de trabalho, contribuindo para a formação, reprodução e reconfiguração de identidades sociais.

Este seminário internacional e multidisciplinar tem como objetivo reunir e discutir contribuições que analisem os processos envolvidos na formação de identidades sociais e suas representações através do cinema. O seminário explorará como o cinema e as práticas cinematográficas – a produção, realização e usos dos filmes –têm contribuído para a formação de memórias sociais sobre o trabalho.

O seminário aceita comunicações que analisem as principais continuidades e descontinuidades presentes nas narrativas de memórias do trabalho, desde o início do século XX até ao presente, com base na análise de filmes ou de um corpo de filmes (tanto ficções como documentários), e sua recepção. Encorajamos abordagens interdisciplinares, teórica e metodologicamente inovadoras, bem como propostas que pretendam incorporar material visual nas suas apresentações.


Os tópicos incluem, mas não se limitam a:
Cinema e trabalho (por exemplo, filmes sobre a classe operária, militantes, educativos, de encomenda);
Identidades sociais e cinema (documentário, ficção, etc.);
Memórias sociais sobre o trabalho;
Usos e contextos de receção dos filmes;
Cinema utilitário
Industrialização e desindustrialização no cinema;
Abordagens de gênero;
Espaços de trabalho;
Técnicas, conhecimento e aprendizagem.

Aceitam-se propostas em português, inglês e espanhol.
Comissão organizadora

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://aimpt.blogspot.com.br/2015/04/seminario-internacional-12-13-novembro.html

Povos indígenas em Santa Catarina, Brasil, demarcações de suas terras e de algumas questões culturais... ( 2 ) videos

Produzimos esses vídeos, no contexto de um licenciamento ambiental e, após sua aprovação pelas Comunidades Indígenas e pela FUNAI, já tivemos a oportunidade de divulgá-los em Universidades, Institutos de Educação e Escolas nas regiões onde estão essas áreas indígenas, sempre com a presença de representantes da comunidades indígenas, o que enriqueceu demais a experiência de diálogo entre as diferentes perspectivas históricas. 


Os vídeos foram um pedido dos povos indígenas para terem um material que auxiliasse a divulgar a sua perspectiva a respeito das demarcações de suas terras e de algumas questões culturais, uma vez que não encontram espaço pra fazê-lo nos meios de comunicação regionais. Eles foram pensados para uso em sala de aula, no ensino médio e superior.


fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://antrocine.blogspot.com.br/






HERDEIROS DA TEIMOSIA, sobre a Terra Indígena Toldo Pinhal em Seara (SC) 


A RETOMADA DO TOLDO IMBÚ - Kaingans na Luta pela Terra em Abelardo Luz (SC)



quinta-feira, 25 de junho de 2015

DO COLETIVO À PRODUTORA

A coletividade, essencial à realização cinematográfica, ganhou novos contornos com a ascensão das tecnologias digitais e a necessidade de pequenos grupos independentes se adequarem a trâmites burocráticos ou mesmo driblá-los, em casos de produções fora dos esquemas institucionalizados de incentivo e patrocínio à produção audiovisual no país. Nos últimos 15 anos, a palavra “coletivo” foi permanentemente integrada ao vocabulário da área e libertou dezenas de realizadores a voos de criatividade e liberdade como não se via desde o início da Retomada, em meados dos anos 1990. O conceito foi se aprimorando na medida em que os próprios grupos se viam transformados, efetivamente, em produtoras. O símbolo da transição é o registro de empresa e pessoa jurídica, representado pelo CNPJ.


“Doce Amianto” (2013), do Alumbramento, de Fortaleza



Os primeiros passos 

Isso não faz com que coletivos formados em fundos de garagem ou quintais de casa percam a individualidade e a camaradagem entre seus membros. Muito pelo contrário: a “burocratização”, às vezes, potencializa os laços entre os integrantes. O caso da produtora Filmes de Plástico, hoje sediada em Belo Horizonte (MG), é exemplar nesse sentido. A coincidência dos sobrenomes de dois sócios, Gabriel Martins e Maurílio Martins, foi apenas o primeiro passo de aproximação, lá no começo de tudo, quando ambos se conheceram num curso superior de cinema na capital mineira, em 2006. Conversa aqui e ali, os dois se identificaram pelas origens humildes e por serem moradores da mesma cidade – Contagem, município conhecido pela presença de grandes indústrias e fábricas na Região Metropolitana de BH.

As afinidades foram surgindo naturalmente. “Desde os primeiros encontros, eu e o Gabriel já sonhávamos em um dia termos uma produtora para fazer nossos filmes”, conta Maurílio. Em 2009, veio a primeira parceria de trabalho, no curta-metragem “Filme de Sábado”. Na equipe, estavam os outros dois futuros integrantes da Filmes de Plástico: André Novais Oliveira, no som (e também morador de Contagem), e Thiago Macêdo Corrêa (único belo-horizontino de fato do quarteto), na direção de produção. Em cena, a baleia de plástico que, no futuro, tornou-se símbolo e logomarca do grupo. “A gente sempre se reunia levando tudo muito a sério e acreditando que o trabalho do grupo era maior do que os projetos individuais.”

Maurílio Martins, Gabriel Martins e André Novais Oliveira,
integrantes do coletivo mineiro Filmes de Plástico,
 localizado em Belo Horizonte. © Aline Arruda

O ponto de virada da até então informal Filmes de Plástico se deu em janeiro de 2010, quando o curta “Fantasmas”, assinado por André Novais, foi exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes. O filme foi coqueluche no festival e chamou atenção para aquele pequeno coletivo de mineiros. “Acompanhávamos outros grupos surgindo, como o Filmes do Caixote (SP), Alumbramento (CE) e a Teia (MG). Também queríamos fazer algo assim, do nosso modo e com a nossa identidade”, relembra Maurílio. No mesmo ano, ele e Gabriel levaram o troféu de melhor direção no Festival de Brasília com o curta “Contagem”, projeto de conclusão do curso de cinema e realizado com apenas R$ 2.000,00.

Trio por alguns anos, a Filme de Plástico se formou e se organizou em definitivo com a entrada de Thiago Macêdo, em 2012. Hoje, possui sede própria numa simpática casa no bairro Prado, em BH, onde centralizam reuniões, projetos, decisões e trabalhos. Filmes sempre muito elogiados têm vindo um atrás do outro, com inserções em grandes festivais internacionais, casos dos curtas “Pouco Mais de um Mês” (2013), de André Novais, premiado com menção honrosa na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, e “Quinze”, de Maurílio, selecionado para várias mostras; e do longa “Ela Volta na Quinta”, de André, apresentado no FID-Marseille, na França, e no Festival de Brasília, em 2014. O mais recente curta da equipe, “Quintal”, assinado por André, levou a turma novamente a Cannes em maio de 2015. “Sobreviver individualmente no cinema é muito difícil, por isso ter um grupo que amplifica as suas ideias é fundamental”, reforça Maurílio.
Longa-metragem “Ela Volta na Quinta”,
de André Novais, integrante do Filmes de Plástico,
e exibido em festivais no Brasil e no exterior. © Gabriel Martins

Laços de amizade

No caso da Símio Filmes, coletivo formado em Recife (PE), a formalização como produtora, por volta de 2008, foi apenas em termos burocráticos. “Nossa organização continua tão mambembe quanto era na época da faculdade, quando nos conhecemos”, conta Marcelo Pedroso, um dos atuais três integrantes do grupo – os outros dois são Juliano Dornelles e Daniel Bandeira. Um quarto membro, Gabriel Mascaro, esteve junto com eles até 2012, quando se desligou para fundar outra produtora. “Há nossa ‘pessoa jurídica’ que responde pelos filmes, mas continuamos sem sede própria. Na verdade, temos uma sede ‘itinerante’, na casa ou na garagem de alguém. Mantemos os aspectos formais para pleitear financiamentos ou algum arranjo para a produção de filmes, enquanto, entre nós, seguimos num hibridismo mutante que se reconfigura ao seu jeito a cada novo trabalho”.

Assim como a Filmes de Plástico, a Símio brotou em épocas de faculdade, a partir de encontros no Centro de Comunicação e Artes da UFPE, no começo dos anos 2000, quando chegou a ter, informalmente, uma dezena de integrantes. “Teve uma ocasião em que a turma dormiu na minha casa para irmos de madrugada filmar um curta do Daniel, “O Lobo do Homem”, lá na universidade. Aproveitamos e fizemos outros pequenos trabalhos, tudo na fuleragem mesmo. Foi quando a gente pensou: ‘temos algo aqui, nisso de trabalhar juntos’”, relembra Pedroso.


Cena do longa “Brasil S/A” do coletivo Símio Filmes, de Pernambuco, dirigido por Marcelo Pedroso, em que integrantes se conheceram na faculdade

Com cada antigo membro seguindo outros rumos, o coletivo enfim se fixou com Pedroso, Dornelles, Bandeira e Mascaro. Juntos, realizaram vários filmes de boa circulação em festivais, o primeiro sendo o longa “Amigos de Risco” (2007), de Daniel Bandeira, que competiu no Festival de Brasília ao lado de nomes de peso como Julio Bressane e Carlos Reichenbach. Outros títulos se seguiram nos anos posteriores, muitos até hoje presentes em rodas de discussão e polêmica, como “Pacific” (2009), de Pedroso, e “Um Lugar ao Sol” (2010), de Mascaro. Em 2014, o mais recente longa do grupo, “Brasil S/A”, de Pedroso, levou troféus de direção, roteiro, trilha sonora, som e montagem no Festival de Brasília.

Sobre a experiência de ter um coletivo/produtora como a Símio, Pedroso é direto: “É instável, inconsequente e apaixonante. São os laços de amizade que permitem as coisas se concretizarem. Precisa também de uma zona de convergência em que sejam reconhecidas as afinidades estéticas e afetivas dos integrantes. Na verdade, a estética até pode ser divergente, mas é importante o diálogo e o interesse em relação aos gestos criativos dos outros, sempre com disposição para escutar as diferenças. A divergência, de fato, tem que ser uma força-motriz para fortalecer o grupo”.


Marcelo Pedroso, do coletivo pernambucano Símio, no Festival de Brasília, recebendo o troféu de melhor direção por “Brasil S/A”, um dos cinco prêmios conquistados. © Junior Aragão

Se firmando como produtora

Se algo difere a trajetória dos integrantes da Alumbramento (CE) de seus colegas Filmes de Plástico e Símio, é apenas numa questão formal: a ambição, desde o princípio, de terem uma produtora de fato e legalizada. “O coletivo surgiu justamente a partir dessa necessidade e da nossa vontade de criarmos uma força maior na cidade de Fortaleza”, relembra Luiz Pretti. Ele e o irmão Ricardo se uniram a um grupo de aproximadamente dez pessoas, que aos poucos foi diminuindo para os atuais seis: Guto Parente, Pedro Diógenes, Ivo Lopes Araújo, Carol Louise e os próprios Luiz e Ricardo.

A fundação da Escola Audiovisual de Fortaleza, em 2006, e os encontros e conversas na Alpendre Casa de Arte, onde um dos fundadores, Alexandre Veras, era figura essencial, foram os núcleos onde brotou o que viria a se tornar a Alumbramento. Trabalho em conjunto foi inevitável, e a primeira oportunidade veio através da iniciativa de Ivo Lopes, hoje um dos diretores de fotografia mais requisitados do cinema brasileiro independente. “Quando estava finalizando o primeiro longa dele, “Sábado à Noite”, em 2006, o Ivo nos procurou, porque queria montar uma produtora que ajudasse a conseguir recursos através de editais de financiamento”, conta Luiz. Naquele mesmo ano, nascia o primeiro filme assinado já como produção Alumbramento: o curta “Às Vezes É Mais Importante Lavar a Pia do que a Louça ou Simplesmente Sabiaguaba”, com direção dos irmãos Pretti.


Guto Parente, Ricardo Pretti, Pedro Diógenes e Luiz Pretti, do coletivo Alumbramento, recebendo o prêmio da crítica da Mostra Tiradentes de 2010, pelo primeiro longa, “Estrada para Ythaca”. © Leo Lara

Em janeiro de 2010, o longa “Estrada para Ythaca” provocou frisson na Mostra de Tiradentes, ganhando o Troféu Barroco dado pelo júri da crítica. Assinado por Irmãos Pretti & Primos Parente, o filme se tornou exemplo de um trabalho coletivo feito sem grandes recursos, equipe reduzida (os diretores eram também os atores) e liberdade irrestrita na realização e na estética. “De alguma forma, ‘Ythaca’ respondeu a alguns anseios e questões que existiam na produção independente, sobre como filmar sem dinheiro, superar o sistema hierarquizado de equipe e vencer o obstáculo da centralização da produção no sudeste brasileiro”, diz Luiz Pretti.

Prestes a completar dez anos, a Alumbramento tem filmografia repleta de realizações bastante notórias, como “Os Monstros” (2011), “Doce Amianto” (2013), “Com os Punhos Cerrados” (2014) e “A Misteriosa Morte de Pérola” (2014). O que os faz continuar e terem engatilhados diversos projetos para os próximos meses é o que Ricardo Pretti chama de “vontade de confirmar a rebeldia e fazer as coisas fora do padrão estabelecido”.


“Estrada para Ythaca” primeiro filme do coletivo cearense Alumbramento, realizado com poucos recursos, mas que garantiu a continuidade do grupo.

fonte: Made In Brazil - http://revistadecinema.uol.com.br/2015/06/do-coletivo-a-produtora/

colaboração: 

Phillip Banks

A ımagem: representação da mulher no cınema

O cinema clássico americano convencionou uma série de códigos de linguagem, resumidos em um manual do discurso narrativo, amplamente aceita pelo público. O star system, movimento industrial cinematográfico instalado em Hollywood a partir da década de 20, assentou as bases da construção narrativa clássica cinematográfica e os elementos formadores do imaginário ocidental. 






A partir da segunda onda do movimento feminista, ocorrida na década de 70, a teoria feminista do cinema demonstrou que a posição das mulheres nos enredos dos filmes hollywoodianos sempre foi a do outro, nunca a de sujeito da narrativa, e que sempre foram tratadas como objetos do voyeurismo masculino. 


Afirma-se que o cultural é uma área de intervenção da ideologia, e se a imagem representada da mulher é uma imagem estereotipada, pode-se dizer que a construção social da mulher, aquela trabalhada pelas diferentes mídias (seja por revistas e anúncios, seja por cinema e televisão) é baseada em critérios preestabelecidos socialmente e impõe uma imagem idealizada da mulher. (LAURETIS, 1978, p. 28). 


Esses estereótipos impostos à imagem da mulher funcionam como uma forma de opressão, pois transformam a mulher em objeto, nulificando-a como sujeito e recalcando o seu papel social. A teoria feminista do cinema A teoria feminista do cinema é um trabalho emergente no Brasil, tendo iniciado somente no fim da década de 80 e até hoje é muito pouco difundida. 




Partiu de um posicionamento teórico de um grupo de realizadores/teóricos britânicos e norteamericanos, na década de 70, e iniciou toda uma nova linha de pesquisa voltada às questões da representação da mulher no cinema. Parte de uma releitura do star system americano e da fascinação do público por atores no cinema. Esse trabalho deu origem à hoje reconhecida teoria feminista do cinema, presente atualmente em todo e qualquer estudo sobre a imagem.


Segundo a visão de Jean-Louis Baudry, um dos maiores teóricos do movimento, citado por Francesco Casseti em seu livro Teorias do cinema: 1945-1995, essa teoria tem como objetivo 


fornecer provas adicionais à idéia de que o cinema, sobre o disfarce de uma “máquina” que meramente obedece a leis científicas, realmente tem efeitos ideológicos devido à forma real em que é concebido. Estes efeitos gravitam ao redor de dois fenômenos: o ocultamento do trabalho que converte a realidade dentro da representação cinematográfica e a construção de um sujeito transcendental que serve como um apoio à audiência. (CASSETI, 1999, p. 194). 


Para tanto, parte de uma análise textual da representação histórica da mulher no cinema, através de uma releitura da narrativa clássica cinematográfica e da forma pela qual o filme clássico produz significados, fundamentando-se nos conceitos emprestados da psicanálise, mais especificamente, no trabalho de Lacan.


Lacan procede a uma releitura das teorias de Freud à luz dos conceitos da 67 linguística estrutural, concebendo sua teoria do inconsciente, estruturada como se fosse uma linguagem em termos de um aparato conceitual. Dada a intenção de contextualizar a teoria feminista do cinema dentro da realidade brasileira, procura-se analisar o processo de emancipação da mulher brasileira sob a égide da ideologia capitalista, sistema dominante em nossa economia terceiromundista, e os reflexos decorrentes das relações de poder em uma sociedade patriarcalista. A partir dessa análise, percebe-se que a nossa realidade se encaixa fortemente nas novas linhas de pensamento, propostas pelos teóricos feministas, como em peças de um complexo quebra-cabeça:


A mulher, desta forma, existe na cultura patriarcal como o significante do outro masculino, presa por uma ordem simbólica na qual o homem pode exprimir suas fantasias e obsessões através do comando lingüístico, impondo-as sobre a imagem silenciosa da mulher, ainda presa a seu lugar como portadora de significado e não produtora de significado. (MULVEY, 1977, s/p.).




Durante décadas defendeu-se o baixo nível de educação da mulher brasileira em nome da família, garantindo, assim, a formação ideológica do indivíduo e reforçando a divisão de classes. Ao lado disso, a Igreja e o Estado ajudaram a reprimir e a reforçar o que já era imposto pela família. A sociedade brasileira criou um constrangimento físico e moral à mulher através da família patriarcal. A hegemonia masculina, de dominação e poder, marca profundamente a vida e a mentalidade da mulher brasileira. Devido a todos esses pressupostos acerca da natureza feminina na sociedade patriarcal, as mulheres passaram a “aceitar estereótipos patriarcais de si mesmas; a encarar-se – seu corpo, sua sexualidade, o intelecto, as emoções, a própria condição de mulher – com os olhos masculinos”. (CAPRA, 1988, s/p.). 


O que se conclui é que foram os homens os produtores das representações femininas existentes até hoje, e essas estão diretamente associadas às formas de a atual mulher ser, agir e se comportar. O que se discute é o fato de a mulher contemporânea buscar se enquadrar em uma imagem projetada de mulher que, na verdade, é aquela que eles gostariam que ela fosse, a partir de representações femininas cunhadas pelos meios de comunicação e, principalmente, pelo cinema.


São atitudes e comportamentos balizados por imagens amplamente divulgadas no cinema e que serviram e servem de modelo a todas as mulheres. O que a teoria feminista do cinema procura demonstrar é que esses estereótipos impostos à mulher, através da mídia, funcionam como uma forma de opressão, pois, ao mesmo tempo que a transformam em objeto (principalmente quando endereçadas às audiências masculinas), a anulam como sujeito e recalcam seu papel social. 




Esse recalcamento da mulher encontra ampla divulgação nos filmes produzidos pela indústria americana, principalmente naqueles que se convencionou chamar cinema clássico americano. Encontra-se inserido no discurso narrativo desses filmes e é uma forma de recalcamento pelo sexo, a favor de uma economia capitalista patriarcal. Ao mesmo tempo que procura justificar a repressão social da mulher, projeta a imagem da mulher ideal, a favor da acumulação de capital. 


A narrativa clássica cinematográfica A partir do estudo do star system hollywoodiano, encontram-se as bases da construção narrativa clássica cinematográfica e os elementos da formação de nosso imaginário. O cinema americano clássico serviu e serve de modelo às cinematografias de todo o mundo, sendo exemplo não só na sua forma de produção e realização, como também em sua forma de representação, o que transcendeu suas fronteiras e povoa o imaginário ocidental. “O imaginário é a ordem que governa a experiência (ou “auto-reconhecimento errôneo”) que tem o sujeito de si mesmo com a totalidade. Assim, [...] o imaginário é o lugar das operações ideológicas”. (KUHN, 1991, p. 61).


O específico cinematográfico, ou seja, a montagem, a iluminação, a composição de imagens, o enquadramento fotográfico, o movimento da câmera, etc., ou seja, aquilo que se convencionou chamar linguagem cinematográfica, é elaborado durante a realização de um filme, com a finalidade de construir significados. 


A construção da imagem – cenários, figurinos, maquiagem, etc. – a composição da imagem na tela, o movimento dentro do quadro dos atores, gera significados relativos à espacialidade do enredo. O enquadramento combinado com a movimentação da câmera pode induzir a uma dada significação dentro da narrativa.


A decupagem, ou seja, a divisão do filme em planos, cenas e sequências, conduz à 69 criação de uma temporalidade e de uma espacialidade próprias àquela narrativa/ trama. O trabalho da câmera em planos mais fechados leva a uma densidade psicológica do personagem, ressaltando detalhes de expressão e, principalmente, a montagem em continuidade, institucionalizada pelo cinema clássico. 


Essa, além de construir uma espacialidade e uma temporalidade únicas, representa o artifício mais contundente para a representação de um mundo coerente que o cinema almeja alcançar e que nos meios teóricos do cinema é conhecido como a “impressão de realidade”:


O cinema é particularmente propenso a dar essa aparência de “naturalidade”, devido às suas qualidades significantes específicas, em especial pelo fato de que a imagem fílmica, ao fundamentar-se no registro potencial da fotografia unido à projeção de uma imagem aparentemente móvel, apresenta toda a aparência de ser “uma mensagem sem código”, uma duplicação não mediatizada do “mundo real”. (KUHN, 1991, p. 99).


Infere-se que a narrativa clássica, diferentemente do que é expresso na tela, é construída através da utilização de uma série de códigos de linguagem (sonoros e visuais), que pode ser sintetizada em um verdadeiro manual do discurso narrativo. Essa manipulação intencional da linguagem audiovisual é aceita plenamente pelo público em geral, e seu objetivo principal é o de criar uma verossimilhança com a realidade, passar-se pelo mundo real. A produção de uma linguagem está ligada ao trabalho e ao modo de produção nela envolvidos. 


No caso do cinema, a produção de significado se dá através de uma pluralidade de discursos. Devido ao monopólio que ainda exerce no mercado de exibição, o cinema americano e, mais especificamente o cinema americano clássico, aquele ligado às ideologias dos grandes estúdios, produz significados que circulam e, sendo incorporados socialmente através dos anos, encontram-se presentes na formação social do indivíduo exposto a esse tipo de comunicação. Portanto, o cinema clássico não só disseminou uma forma de produção de filmes, mas também e, principalmente, valores e ideologias enraizados socialmente e enraizados em nível de sujeito, num processo contínuo desde a sua instalação. 


É fundamental considerar-se a sua importância à formação ideológica do sujeito e às construções sociais:


O cinema foi estudado como um aparato de representação, uma máquina de imagem desenvolvida para construir imagens ou visões da realidade social e o lugar do espectador nele. Mas, [...] como o cinema está diretamente implicado à produção e reprodução de significados, de valores e ideologia, tanto na sociabilidade quanto na subjetividade, é melhor Gubernikoff, Giselle. A imagem: representação da mulher no cinema 70 entendê-lo como uma prática significante, um trabalho de simbiose: um trabalho que produz efeitos de significação e de percepção, auto-imagem e posições subjetivas, para todos aqueles envolvidos, realizadores e espectadores; é, portanto, um processo semiótico no qual o sujeito é continuamente engajado, representado e inscrito na ideologia. (LAURENTIS, 1978, p. 37).


O que se discute aqui é o fato de que desde o início da história do cinema como espetáculo, em um século em que cresce o domínio da imagem, o cinema americano foi conivente com as ideologias patriarcalistas, originando a representação de uma imagem da mulher “cativa” dentro desse contexto. 


Audiência Analisando-se o star system como fenômeno social, observa-se que foi o público o responsável por essa tendência em transformar os atores dos filmes em heróis, em transformar o cinema em um ritual de “projeção-identificação” (ASTRE, 1976, p.17), processo esse que se realiza em nível de espetáculo. Ou seja, do ponto de vista do público, o star system pode ser considerado um fenômeno social, em que as estrelas do cinema são cultuadas como deusas do Olimpo. 


Pode-se perceber uma mitologia que se situa no limite entre a crença e o divertimento, entre a estética, a mágica e a religião. Esse fenômeno se explica em parte porque a tela, com sua especificidade fílmica, funciona como um espelho para a plateia, pois envolve a presença humana, ou seja, o ator. Nesse processo, o espectador cria uma identificação afetiva com o espetáculo. Por outro lado, explica-se o fenômeno do star system pela própria evolução histórica e social da burguesia e, consequentemente, da economia capitalista que fundamenta a produção cinematográfica. 


A mitologia que abrange o star system justifica-se em função da evolução da vida urbana burguesa e envolve mais fortemente mulheres e adolescentes, que agem de forma cultural mais ativa e integradora. Eles são considerados elementos de modernidade em nossa sociedade


O star system exprime aspirações profundas da sociedade capitalista através de suas deusas, transformando-as em mercadoria. A indústria cinematográfica somente encorajou essa necessidade, e, já em 1950, um levantamento apontou que 48% do público feminino e 36% do público masculino escolhiam seus filmes a partir do elenco.


A estrela não só representava uma personagem, no sentido de interpretar, mas ela 71 também personificava a melhor maneira que um indivíduo pode tomar diante dos problemas da vida. O star system trabalha sobre esses estereótipos recorrentes na sociedade e que permitem uma identificação do espectador através de traços de personalidade e expectativas comuns à maioria deles. Isso justifica a existência das “estrelas” cujas funções principais passam a ser de modelo de comportamento, de exorcizar demônios ou de serem simplesmente instrumento da catharsis que envolve qualquer espetáculo. 


Mas a estrela é, antes de tudo, um produto industrial. Inserida no contexto da mercadoria “filme”, a estrela é um artigo manufaturado e submetido a uma metamorfose pelo estúdio. Maquiagem, fetichismo e outros recursos Teoricamente falando, como se dá esse processo? As diferentes linhas teóricas ligadas ao cinema e ao feminismo partem da teoria de Levi-Strauss sobre a mulher como objeto de troca, mercadoria fundamental para a estabilidade social, na qual deve permanecer como infraestrutura irreconhecível, tanto social como culturalmente. Isso estaria ligado diretamente ao status da mulher na sociedade capitalista. Segundo ele, o que se propõe é a eliminação da subjetividade feminina em detrimento de sua comercialização. (DOANE, 1996, p. 119). 


Os filmes do star system, tendo seu enredo construído em torno do desejo centralizado em um par romântico, estabelecem uma relação erótica que nunca se concretiza na tela. Esse puritanismo é fruto dos códigos de produção vigentes na Hollywood da época. Essa negação do sexo tem na maquiagem sua principal aliada.


Para Morin, em seu livro As Estrelas, a maquiagem no cinema adquiriu a mesma função da maquiagem teatral, a de “permitir e fixar um fenômeno de posse [...]. O corpo ideal das estrelas revela uma alma ideal”. (MORIN, 1972, p. 40). Nesse sentido, outros códigos específicos da realização cinematográfica foram incorporados à idealização da representação da mulher. 


Por exemplo, a fotografia: durante as filmagens, a câmara deve observar os ângulos do ponto de vista, para corrigir a altura das estrelas, escolher o melhor perfil, eliminar rugas e todas as transgressões à beleza. A iluminação deve distribuir sombras e luz sobre o rosto de acordo com as exigências de uma beleza ideal. Gubernikoff, Giselle. A imagem: representação da mulher no cinema 72 Por outro lado, é com a fetichização da imagem da mulher no cinema que se rompem tabus, ao se anexar adereços do vestiário masculino à indumentária das estrelas. Nesse sentido, historicamente, justifica-se o uso (a introdução) pelas atrizes em cena de calças cumpridas, de gravatas, chapéus e bengalas, nesse jogo de sedução e identificação entre a estrela e seu público, o que acaba por ocasionar uma revolução na própria moda. Um exemplo de atriz que vem logo à mente é Marlene Dietrich com seus adereços e poses masculinas.


Para o psicanalista Freud fetichismo é a substituição de um objeto ou coisa no lugar de outra, uma forma de distanciamento de uma possível ameaça (nesse caso, a ameaça representada pela mulher ao homem). Já o narcisismo confunde a diferença entre sujeito e objeto e é um mecanismo associado, especificamente, ao desejo feminino. A empatia afetiva da mulher com a mercadoria no cinema se dá através do olhar, quando ela divide os mesmos atributos com o que está na tela. E o que está na tela é dominado pela indústria da mercadoria:


Em seu desejo de trazer as coisas da tela mais próximas, para se aproximar da imagem corporal da estrela, e para possuir o espaço no qual ela reside, a espectadora mulher experimenta a intensidade da imagem como brilho e exemplifica a percepção própria do consumidor. A imagem cinematográfica para a mulher é ambos, vitrine e espelho, uma simples maneira de acesso à outra. O espelho/vitrine, então, toma o aspecto de uma armadilha enquanto a sua subjetividade torna-se sinônimo de sua objetivação. (DOANE, 1996, p. 131, grifos nossos).


Negadas socialmente em seu voyeurismo e desejadas como objeto pelo voyeurismo masculino, as mulheres foram estimuladas em seu narcisismo. Originalmente caracterizadas como objetos a serem trocados, tornaram-se alvo da economia capitalista como consumidoras, numa relação bastante explícita entre consumismo e cinema. 


O cinema dominante envolve a espectadora feminina, que é orientada em seu desejo em direção a uma ordem social e a uma posição do significado dentro da imagem. Representada como o próprio local da sexualidade, objeto fetichizado, o cinema especifica a mulher nessa ordem a partir do qual se cria a identificação. Nossa cultura difundiu a ideia de que o corpo da mulher é um espetáculo a ser olhado, e que essa deve conhecer o seu lugar (provavelmente à beira de um tanque ou fogão).


A mulher na narrativa Nesse caso, a mulher é mais uma das estruturas que regem o argumento em um grupo de outras estruturas narrativas. Nessa perspectiva, o que se percebe é que a estrutura-mulher, dentro da trama, está sempre associada a uma função narrativa ligada a algum elemento masculino. (KAPLAN, 1995). Se há alguma ruptura em seu papel durante o desenvolvimento do filme, no fim ela voltará sempre para seu devido lugar social e familiar. 


Caso isso não aconteça, no transcorrer do enredo, será castigada por sua transgressão. O cinema narrativo clássico criou uma identificação da mulher através de uma sedução em direção à sua feminilidade. Ao produzir imagens, o cinema produziu imaginação, criando afetividade, significação e posicionando o espectador em relação ao desejo. Feminilidade tornou-se, assim, sinônimo de atração sexual e, portanto, disponibilidade para os homens. A mulher interiorizou os conceitos divulgados pelo cinema clássico como se fossem a sua própria identidade. 


Nesse processo, foi objetivada como consumidora. De um lado, de uma ideologia – a capitalista, e, de outro, de um produto – sua própria feminilidade. Enfim, ela só é mais um dos elementos na estrutura da sedução. Considerações finais


Desde então, o star system faz parte integrante da indústria cinematográfica, que, em seus enredos, trabalha constantemente com arquétipos ou estereótipos, como a jovem inocente, a vamp, a prostituta e a divina. A divina, ou diva, situa-se entre a jovem inocente e a femme fatale, aquela que sofre, mas faz sofrer, encarnada historicamente por Greta Garbo. 


Mesmo com o grande avanço da emancipação feminina, nos anos 60, as mulheres do cinema ainda são construídas com base nesses estereótipos, escondendo-se atrás de um romantismo exagerado e sem nenhuma indicação sobre o modo real de sua vida. Simplesmente ignora-se o feminismo no cinema. As atrizes e suas personagens, sempre concebidas como arquétipos, de vamps a mães, serão continuamente vítimas de si mesmas ou de contingências externas. E, mesmo que reajam contra isso, nunca se veem nas telas verdadeiras heroínas,


mas sobretudo pessoas inexpressivas e passivas e, não muitas vezes, reacionárias. Devido a esses fatores sociais, o cinema sempre ficou atrasado em relação a toda revolução sexual. Na história da cinematografia brasileira, podemos observar uma forte influência do sistema patriarcal e de seus valores, já que a participação da mulher na sociedade nunca foi total. 


Os mesmos conceitos se reproduzem, o da mulher como objeto ou como não participante da sociedade produtiva, já que a cultura oficial sempre esteve nas mãos das classes dominantes. O star system chega ao Brasil como um modelo importado, sem tentar encontrar caminhos próprios ou, na melhor das formas, imitando-o: “Nosso modelo era o cinema norte-americano [...]. Dentro de nossa conjuntura é natural que tentemos imitá-lo.” (PARANAGUÁ, 1984, p. 108). Dentro de uma linha bastante nacionalista, a revista Cinearte, distribuída de 1926 a 1942, foi fundamental para o nascimento de uma consciência cinematográfica nacional, embora baseada em um modelo americano. 


As reproduções fotográficas das atrizes do cinema brasileiro, nos meios de comunicação impressos, foram o principal meio utilizado para divulgá-las, já que seus filmes eram pouco vistos. Ao mesmo tempo, a Cinearte foi o melhor instrumento para a incorporação do modelo hollywoodiano aqui


Carmem Miranda é a única estrela brasileira da época a conseguir projeção internacional proveniente de filmes carnavalescos das décadas de 30 e 40, que se transformaram em verdadeiros êxitos de bilheteria no Brasil. Mais tarde, esses filmes desembocariam na chanchada das décadas de 40 e 50, em sua grande maioria, filmes populares, em que reinava a improvisação e a espontaneidade e que exploravam, entre outros temas, uma sátira ao modelo de cinema norteamericano. Quando Cecil B. De Mille lança o épico “Sansão e Dalila” (1949) pela indústria norte-americana, Carlos Manga dirige, aqui, “Nem Sansão, nem Dalila” (1955), com Fada Santoro e Oscarito. 


O movimento da chanchada no Brasil caracteriza-se por filmes produzidos em sua maioria no Rio de Janeiro, em duas de suas principais empresas produtoras: a Cinédia e a Atlântida, tendo como principais diretores Lulu de Barros e Watson Macedo. Aproveitam-se principalmente dos artistas do rádio e do Teatro de Revista para a formação de sua constelação. Entre esses se destacam: Oscarito, José Lewgoy, Dercy Gonçalves, Norma Benguel e Grande Othelo, incorporados pelo cinema cultural pelo movimento do Cinema Novo, entre outros atores a serem mencionados.


Numa fase anterior à explosão da televisão no Brasil, na década de 50, a im75 plantação da Cia. Cinematográfica Vera Cruz representou uma tentativa de imitação de um modelo de cinema dominante, voltada para um público mais culto e com uma proposta menos popular daquela da chanchada. Para tanto, vai buscar técnicos e diretores no cinema internacional, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e no teatro paulista, algumas das estrelas de sua constelação, como: Tônia Carrero, Cacilda Becker, Paulo Autran, Juca de Oliveira, Irene Ravache, entre outros. Dentre os gêneros produzidos pelo cinema brasileiro, vale ressaltar a pornochanchada, fenômeno popular que alimentou por 15 anos a produção da boca-dolixo de São Paulo e que centrava sua temática na exploração erótica. Sua origem se deu a partir das comédias italianas da década de 60. 


A pornochanchada redescobre o grande potencial sexual da mulher brasileira, na década de 70, mas explora de forma agressiva e acintosa a fantasia masculina no binômio desejo/sexo.


Surgiu, inicialmente, no Rio de Janeiro, com a figura do malandro carioca transformado em paquera no filme “Os Paqueras”, de Reginaldo Farias, de 1969. Além da renovação como gênero cinematográfico, “Os Paqueras” transformou-se na segunda maior bilheteria do ano, fazendo renascer a empatia do cinema brasileiro com o grande público, afastado das salas do cinema nacional desde os tempos da chanchada. A partir daí, uma série de estereótipos será explorada, além do paquera: o “corno”, o homossexual, o velho impotente, etc. 


E a dicotomia feminina é transfigurada na figura da virgem ou da desquitada/viúva. O que se vê é a vulgarização da imagem feminina, inserida numa ideologia falocrática de dominação e violência. As primeiras atrizes da pornochanchada mal conseguem escapar do anonimato, com exceção de Helena Ramos, Vera Fischer e Aldine Muller. Mais tarde, encampadas pelo Sistema Globo de Televisão, passam, inicialmente, por um período de “purgação”, antes de ser definitivamente aceitas pela classe média brasileira, e convalidam a tradição de que a sexualidade feminina é trágica. 


Mas, na verdade, a televisão brasileira é a grande mídia nacional, porque expõe a maioria de nossos atores ao grande público, operando em um sistema de divulgação semelhante ao dos grandes estúdios americanos, com direito a revistas de fãs, divulgação de fofocas, etc. A verdade é que a grande responsável pela criação de um Pantheon de estrelas no Brasil foram as telenovelas brasileiras, principalmente pela imagem difundida pela Rede Globo de Televisão. São elas, as telenovelas, as herdeiras dos filmes de mulheres, orientados à audiência feminina – filmes que dominaram o mercado exibidor americano até a década de 50 – quando inicia a hegemonia da televisão, independentemente do fato de se dirigirem somente a audiências femininas ou não.

Fonte: @edisonmariotti   #edisonmariotti    Giselle Gubernikoff
Artigos completos publicados em periódicos - colaboração, original:  GUBERNIKOFF, Giselle