terça-feira, 17 de junho de 2014

Short Plays: futebol na tela em três minutos

Diretores conceituados de cinema dos quatro cantos do planeta aceitaram abordar o tema futebol em curtas-metragens sem diálogos, dando origem à série Short Plays, desenvolvida para a TV pelo diretor mexicano Daniel Gruener.



A intenção é que os curtas sejam transmitidos diariamente durante o Mundial por vários canais de televisão em diversos países. “Minha ideia foi oferecer um tipo diferente de conteúdo durante a Copa”, afirma Gruener. Diretor do longa Sobrenatural (1996) e de diversos trabalhos premiados internacionalmente, o realizador quis criar um projeto que pudesse despertar também o interesse de públicos alheios ao universo do futebol.


Apichatpong Weerasethakul e Karim Aïnouz Ao lado do mexicano, que além de mentor da ideia também dirige um dos curtas, cerca de 30 diretores foram convidados a participar do projeto. São cineastas de renome, premiados entre outros nos conceituados festivais de Cannes, Berlim, Sundance ou Veneza. “Foi uma tarefa exaustante entrar em contato com esse grande número de diretores, todos eles com agendas cheias. Por fim, conseguimos a adesão de 25 nomes provenientes de países que participam do Mundial”, ressalta Gruener. Entre os envolvidos, figuram diretores como os brasileiros Karim Aïnouz e Marcelo Gomes, o tailandês Apichatpong Weerasethakul, o colombiano Carlos Moreno, o marroquino Faouzi Bensaidi, o italiano Luca Lucini e o português Pedro Amorim.




“Na verdade, não me interesso por futebol”, confessa o brasileiro Karim Aïnouz, diretor entre outros de Praia do Futuro, longa que estreou no último Festival de Berlim e está em cartaz nos cinemas brasileiros. “Gosto de nadar. Quando era adolescente, promovia uns jogos de futebol no quintal da minha casa”, relembra o diretor. “A pressão era grande, todo mundo tinha que jogar futebol. Mas depois de uns três jogos entendi que nao era a minha e não joguei nunca mais”. Ainda assim, o projeto de Daniel Gruener o convenceu.


Recorte do Brasil contemporâneo

“O Carlos [Reygardas, diretor mexicano] me ligou e falou do projeto, ele perguntou se eu teria interesse. Futebol não é um tema que me atrai muito, falei para o Daniel. Ele gostou disso, o que me aliviou”, recorda Aïnouz. O contato inicial com Daniel Gruener aconteceu em fevereiro deste ano, durante o Festival de Berlim: “O Daniel me ligou e ao longo da conversa fui entendendo que o curta não precisaria ser exatamente sobre futebol, e sim sobre a possibilidade de, durante a Copa, apresentar um pequeno recorte do Brasil contemporrâneo. Isso me mobilizou”, diz Aïnouz.

Para o projeto Short Plays, o diretor brasileiro convidou o amigo pernambucano e também cineasta Marcelo Gomes, com quem já havia dividido a direção do longa Viajo porque preciso, volto porque te amo (2009). Juntos, realizaram um curta que conta a história de um “mordomo” – função extinta e que descrevia o trabalho de organização e logística antes e após uma partida de futebol, no vestiário.



“O mordomo era aquele cara que limpava o vestiário, que dobrava as camisetas, recolhia as bolas. Era o subalterno do futebol, aquela figura invisível, sempre nos bastidores”, fala Aïnouz. “Marcelo e eu achamos bonito contar a história deste personagem e não necessariamente do jogo em si ou o óbvio de uma partida de futebol, com seus gols e vitórias”, completa. Além disso, continua o diretor, foi desafiante criar em cima de um tema tão importante para os brasileiros: “Futebol é um catalisador de encontros, de ações. O curta que desenvolvemos para o Short Plays nada mais é do que um olhar carinhoso sobre este esporte, pelo qual até então me interessei tão pouco“.


Quando o real se sobrepõe ao digital Daniel Gruener, o iniciador, ficou satisfeito com o resultado: “Seria impossível falar sobre futebol sem convidar um grande diretor brasileiro. E tive a sorte de ter dois”, afirma o realizador mexicano. Entre os nomes europeus, Gruener convidou, entre outros, o norueguês Rune Denstad Langlo e a alemã Doris Dörrie. A escritora, produtora e diretora Dörrie aceitou o convite, embora não nutra “um interesse genuíno pelo futebol. O esporte em si não me interessa muito”, afirma.

“O futebol um dos últimos grandes eventos que acontecem ao vivo e não podem ser adiados através da tecnologia digital. Ele não acontece digitalmente e disso eu gosto”, reflete Dörrie, que se diz impressionada com a forma como essa modalidade esportiva pode ser motivo de grande alegria e festa e ao mesmo tempo razão de profundas tristezas: “Lembro-me de um montador, com quem não podia trocar uma palavra durante uma semana quando o time dele perdia. Sempre achei exagerado e nunca entendi isso”, confessa a diretora.


“Protestos são importantes”



Talvez esteja aí a razão de sua abordagem do assunto no projeto Short Plays: “É uma animação e se chama Der Ball (A bola). É um filme de três minutos, muito delicado, sobre o martírio de uma bola durante uma partida de futebol. E o filme é narrado a partir da perspectiva desta bola”, revela Dörrie.

A cineasta deixa entrever um certo ceticismo quando é questionada a respeito de suas expectativas com relação à Copa do Mundo no Brasil: "Não tenho certeza se a forma como a Fifa resolveu organizar este evento no Brasil realmente é a melhor. Existem tantas perguntas importantes sem resposta. Quem vai se beneficiar com esta competição? Para quem estão fazendo tudo isso?”, indaga a diretora. “Os protestos dos brasileiros são importantes, necessários e servem como base para discussão”, conclui.


Manoella Barbosa
é jornalista freelancer, com mestrado pela Universidade de Hamburgo, onde vive e trabalha.

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Junho de 2014
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fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti 

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