O município de Cambuquira, no interior de Minas Gerais, é conhecido por suas fontes de água mineral, um dos principais ativos da economia local. Desde 2005, a cidade de 13 mil habitantes também tem uma mostra de curtas-metragens para chamar de sua, iniciativa de um grupo de estudantes formados na Universidade Federal de São Carlos que viram no local uma ótima oportunidade para integrar a população à linguagem audiovisual.
Ananda Guimarães, uma das idealizadoras do projeto, conta que, naquele momento, ela e seus colegas recém-formados em Imagem e Som queriam mais do que tudo produzir e divulgar seus filmes. “Saindo da faculdade, a falta de visibilidade do curta-metragem era algo que nos afetaria diretamente, por mais próximo que possa parecer esse passado, a internet ainda não era um canal de exibição tão forte quanto é hoje”, esclarece.
A vontade cresceu quando eles se depararam com o Cine Elite, edifício histórico construído na década de 40 para abrigar as películas que chegavam à cidade. O cinema havia interrompido as atividades nos anos 80, mas seu charme continuava intacto. “Cambuquira tinha uma geração de crianças e adolescentes que nunca havia entrado lá, e uma geração que voltava com saudade e curiosidade”, relembra Ananda.
Talvez por isso, a primeira edição da MOSCA (Mostra Audiovisual de Cambuquira) tenha superado as expectativas, lotando a sala de 200 lugares na primeira sessão de exibição. “Percebemos um público muito aberto, sem preconceito com o tipo de filme que exibíamos (de linguagem bem diferente da TV ou do cinema Hollywoodiano), interessado e bastante crítico”, afirma.
A relação do povo de Cambuquira com o cinema remete a 1904, quando D. W. Griffith, um dos arquitetos do fazer-cinema, ainda nem havia lançado seu primeiro trabalho como realizador. Neste ano, a cidade recebeu sua primeira sala de cinema. A instalação aconteceu antes mesmo da região ter se emancipado do distrito de Campanha e se tornado um município de fato, em 1911.
Essa relação com o audiovisual se intensificou após a realização das mostras de cinema. Uma prova disso são os jovens que saíram das oficinas promovidas pela MOSCA e foram buscar formação na área e também em artes cênicas e filosofia, influenciados pelo evento, segundo relatos dos próprios aos organizadores. “Já percebo uma turma mais nova que está começando a produzir também. Desde a segunda mostra, temos pelo menos um filme cambuquirense na programação”, comenta Ananda.
As oficinas gratuitas são realizadas durante os dias da mostra, com o objetivo de tornar espectador um participante ativo e crítico sobre o conteúdo que assiste. A cada nova edição, os organizadores tentam levar pelo menos um novo tema para os cursos. “Já tivemos oficinas de animação para crianças, interpretação, realização de documentário, ficção, cinema mudo, TV, fotografia, pinhole, cineclubismo, videodança e outros”.
Diante de tanta vontade e interesse por parte do público e das pessoas que entram em contato com o projeto através da internet, os realizadores do evento resolveram utilizar esses ativos para alcançar o restante de recursos para a realização do evento neste ano – a MOSCA captou apenas 25% do orçamento aprovado pelo Ministério da Cultura para a edição 2012.
Assim, o projeto foi exposto no site de financiamento coletivo Catarse e conseguiu superar a meta de 13,5 mil. Segundo Ananda, o modelo é apropriado a projetos que acontecem no interior do Brasil e tem dificuldade para obter recursos, mesmo utilizando leis de incentivo. “Se o projeto é popular, ninguém tem mais interesse na continuidade e no fortalecimento dele do que o próprio público”, explica.
A sétima edição da MOSCA, que acontece de 11 a 15 de julho, trará novidades. A quantidade de obras exibidas será menor, mas haverá mais sessões com debates direcionados. Além da programação habitual, com filmes, oficinas e exposições, o evento contará com o Encontro do Cinema e Vídeo Cambuquirense, que vai reunir produtores locais, sessão e debate Cinema 3D, recital de poesia e observação astronômica, em parceria com o observatório local.
Os curtas serão divididos em cinco categorias: Mostra Brasil, Cambuquira, Sexta Feira 13, Infanto Juvenil e Internacional. Tudo isso para suprir a demanda. “Fomos percebendo que com o passar dos anos, conquistamos mais espectadores e daí é possível ter duas atrações simultâneas. Tudo que fazemos é pensado de acordo com o cotidiano na cidade e a relação direta com o público”, diz.
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