Depois de quase dois meses de interrupção das suas atividades por conta da greve de alunos, professores e funcionários da Universidade de São Paulo, o CINUSP Paulo Emílio retoma sua programação regular com a mostra ROBERT WISE, em homenagem a um dos diretores mais bem-sucedidos e prolíficos do cinema clássico de Hollywood, que teria completado cem anos de idade no último dia 10 de setembro. Falecido há nove anos, no dia 14 de setembro de 2005, Robert Earl Wise nasceu em Winchester, Indiana, no dia 10 de setembro de 1914. Diretor, produtor ou montador de inúmeros clássicos do cinema norte-americano, sua história de vida atravessa boa parte do período áureo de Hollywood e seu trabalho inclui experiências em quase todos os gêneros cinematográficos, de modo que sua trajetória cinematográfica se confunde com a própria história da indústria.
Wise queria ser
jornalista, mas, devido à crise financeira de 1929, teve que interromper os
estudos aos 19 anos para começar a trabalhar. Mudou-se para Los Angeles, onde um
irmão mais velho trabalhava na indústria cinematográfica e lhe arrumou emprego
como operador de som na RKO. Trabalhou no departamento de som em vários filmes
da RKO, como, por exemplo, O Delator
(The Informer), de John Ford, até
que, em 1939, passou a montar filmes e a ganhar prestígio no meio, processo que
culminou com o convite de Orson Welles, em 1941, para que ele editasse seu
primeiro filme, Cidadão Kane, pelo
qual Wise acabaria sendo indicado ao Oscar de Melhor Montagem. Wise ainda
trabalharia com Welles na montagem do filme seguinte do lendário cineasta, Soberba (The Magnificent Ambersons), o qual,
depois de inúmeros desentendimentos entre Welles e os produtores, passou a
contar, inclusive, com cenas adicionais dirigidas por Wise. Com a fama que
alcançou por meio de seu trabalho como montador, Robert Wise foi convidado, em
1944, para substituir o croata Gunther von Fritsch na direção do filme A Maldição do Sangue da Pantera,
continuação do grande sucesso Sangue de
Pantera (Cat People), dirigido
por Jacques Tourneur dois anos antes. O filme repetiu o êxito de bilheteria de
seu antecessor e, a partir daquele ponto, Robert Wise não parou mais de dirigir
longas-metragens de sucesso.
Ao longo de mais de
cinquenta anos de carreira como diretor, Robert Wise dirigiu trinta e nove
filmes e construiu uma expressiva trajetória dentro do mundo cinematográfico.
Além de ter sido indicado pela montagem de Cidadão Kane e, dezessete anos depois,
pela direção de Eu Quero Viver!, Wise
conquistou duas vezes, simultaneamente, os prêmios de Melhor Diretor e Melhor
Filme no Oscar: pelos musicais Amor,
Sublime Amor, em 1962, e A Noviça
Rebelde, em 1966. No seguinte, seria indicado ainda mais uma última vez ao
maior prêmio do cinema norte-americano, na categoria Melhor Filme, por O Canhoneiro do
Yang-Tsé.
Além de extensa, a
filmografia de Robert Wise é também marcada por uma incomparável versatilidade,
que lhe permitiu transitar com a mesma desenvoltura por uma gama bastante
diversa de gêneros cinematográficos. De adaptações de suntuosos espetáculos da
Broadway, como os icônicos musicais Amor,
Sublime Amor e A Noviça Rebelde,
à primeira adaptação para o cinema da cultuada série televisiva de
ficção-científica Jornada nas
Estrelas, passando por filmes de guerra e de horror (tanto os de caráter
“B”, como aquele com a qual iniciou sua carreira de diretor, A Maldição do Sangue da Pantera, quanto
os sofisticados Desafio do Além e As Duas Vidas de Audrey Rose), thrillers, dramas históricos, policiais
noir, comédias românticas e westerns,
Wise foi responsável por obras marcantes em quase todos os gêneros do cinema
hollywoodiano típico. Constantemente lembrado por sua excelência técnica e por
sua precisão estética, Robert Wise explorou de maneira criativa as convenções do
estilo clássico do cinema norte-americano. Sua heterogênea filmografia ganha
contornos ainda mais relevantes quando se constata que há ali não só o domínio,
mas também a capacidade de subverter e misturar essas convenções dos gêneros
cinematográficos. É o caso, por exemplo, de Punhos de Campeão, obra que mescla
traços do film noir e elementos do
filme gangster a um drama sobre boxe.
Robert Wise explora tanto as fronteiras entre os gêneros que diversos dos seus
filmes não se permitem enquadrar em apenas um deles, apresentando nuances,
combinações e variações que levam essas obras para além da catalogação didática.
No campo da teoria e
da crítica do cinema, Robert Wise muitas vezes tem sua importância subestimada
dentro da história do cinema, mas é reconhecido com unanimidade como um cineasta
completo, por ter dominado a arte de contar boas histórias,
independentemente do gênero em que trabalhava. Parte da crítica costuma se deter
na habilidade técnica do diretor, ignorando o possível caráter autoral de seu
trabalho. Em contrapartida, outra parte da crítica reconhece a posição de Wise
como autor, por seus filmes representarem uma expressão de modernidade e de
discussão das convenções no panorama intrinsecamente padronizado do cinema de
gênero hollywoodiano.
Atento à efeméride do
centenário de nascimento deste singular e importante cineasta, o CINUSP Paulo
Emílio realiza agora a mostra ROBERT WISE, uma abrangente retrospectiva com
vinte e um dos mais diversificados e célebres filmes dirigidos pelo realizador.
Esse tributo ao centenário do diretor traz de volta para a tela grande e para a
sala escura do cinema filmes representativos da pluralidade de gêneros e da
excelência técnica inerentes ao trabalho desse cineasta. Além dos musicais que o
tornaram célebre, Amor, Sublime Amor
e A Noviça Rebelde (e de outro
musical também estrelado por Julie Andrews, A Estrela), ganham exibição nesta mostra
longas-metragens que representam todas as facetas do trabalho do cineasta, de
quase todas as décadas em que trabalhou. Praticamente todos os filmes reunidos
nesta programação podem ser considerados clássicos dentro de seus gêneros
específicos, seja o film noir (Nascido Para Matar, Terrível Suspeita), a ficção-científica
(O Dia que a Terra Parou, Jornada nas Estrelas: O Filme, O Enigma de Andrômeda), o terror (A Maldição do Sangue da Pantera, Desafio do Além, As Duas Vidas de Audrey Rose), o épico
histórico (Helena de Troia, O Dirigível Hindenburg), a comédia
romântica (Dois na Gangorra), ou o
filme de guerra (O Mar É Nosso
Túmulo, Ratos do Deserto, O Canhoneiro do Yang-Tsé). Também estão
incluídos na programação desta mostra exemplos de seu talento ao conduzir
histórias dramáticas sobre os mais diversos assuntos, como a vida de boxeadores
e o mundo do crime (Marcado pela
Sarjeta, Punhos de Campeão), o
sistema judicial (Eu Quero Viver!) ou
o mundo dos negócios (Um Homem e Dez
Destinos).
Reunindo tantas obras
de qualidade de um mesmo diretor, o CINUSP convida aos admiradores do diretor
Robert Wise, assim como àqueles que ainda não conhecem o seu trabalho, a
apreciarem suas obras pelo que elas são: cinema clássico em sua melhor forma,
pelas mãos de um de seus maiores artesãos. Um tributo ao centenário de um
cineasta de vasta trajetória e plural filmografia e uma oportunidade para o
público conferir na sala de cinema a maestria técnica e estética de Robert
Wise.
PROGRAMAÇÃO:
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