quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Enquanto São Paulo investe em cinema, Florianópolis dá um passo atrás em 2013


Colunista Ivo Müller entrevista Mauro Baptista Vedia, membro da diretoria da Associação Paulista de Cineastas (Apaci), sobre a nova empresa de audiovisual do município paulista, a SP Cine



SP Cine quer fomentar a produção, distribuição e exibição do audiovisual produzido em São Paulo Foto: Divulgação / Mário Motta


Um dos temas deste espaço é o cinema. Em novembro falamos sobre a primeira Film Commission catarinense, em Balneário Camboriú. Mais ou menos na mesma época, foi aprovada na Câmara de Vereadores de São Paulo o projeto da SP Cine, a Empresa de Cinema e Audiovisual da cidade. O lançamento, feito em outubro, uniu a Agência Nacional do Cinema (Ancine), prefeitura e governo do Estado de SP, três esferas governamentais em torno de um projeto. O objetivo da SP Cine é fomentar a produção, distribuição e exibição do audiovisual produzido no município.

Conversei com o cineasta Mauro Baptista Vedia, membro da diretoria da Associação Paulista de Cineastas (Apaci), atuante em todo o processo de criação da nova empresa. Vedia é doutor pela USP e seu primeiro longa-metragem, Jardim Europa, estreou no Festival Latino-Americano de Cinema de 2013 e deve entrar em cartaz no próximo ano. É também diretor de teatro e autor do livro indicado ao prêmio Jabuti, O Cinema de Quentin Tarantino (Editora Papirus, 2010).

Qual a importância da SP Cine no cenário atual do cinema brasileiro?
A criação da SP Cine terá uma importância fundamental para o cinema nacional, já que vai fomentar e distribuir o audiovisual realizado em São Paulo, Estado que concentra 36% do PIB brasileiro, o maior parque exibidor, portanto a maior quantidade de salas, a maior quantidade de produtoras e laboratórios.

A RioFilme existe desde 1992. Por que São Paulo ainda não tinha uma empresa desse tipo?
Há razões históricas e culturais que explicam em parte isso. O cinema do Rio de Janeiro sempre se colocou como cinema nacional, nacional e popular, e o cinema de São Paulo sempre teve uma atitude diferente, dificuldade para se colocar como cinema nacional e como cinema popular (Mazzaroppi é uma exceção e parte dos filmes de Hector Babenco também). Em geral tem sido um cinema mais de província, um cinema mais de contestação e de pesquisa de linguagem, um cinema mais autoral. Há alguns grandes filmes que conseguem dialogar com o público e serem sofisticados em termos estéticos, mas têm sido exceção (Pixote e Lúcio Flávio, de Hector Babenco; Cidade de Deus, de Fernando Meirelles; São Paulo S.A., de Luiz Sérgio Person; e O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla). Além disso, o cinema em São Paulo nunca foi visto pela esfera política como uma prioridade. A cidade tem um problema grande de autoestima, mas tudo começou a mudar nos últimos anos. Agora tem muita gente que tem orgulho de morar em São Paulo, e a diversidade cultural da cidade é extraordinária.

Fala-se muito da concentração de filmes feitos entre RJ e SP. Como você acha que a SP Cine pode fortalecer o cinema nacional, inclusive o cinema feito em outros Estados?
A SP Cine certamente vai permitir que o cinema paulista tenha uma presença muito forte no cinema brasileiro, algo que não é o que acontece ultimamente, a produção é pequena em relação à megalópole que São Paulo é. E a presença no mercado é irrisória, as grandes bilheterias são 98% cariocas. Nesse sentido, acredito que a SP CINE possa permitir que um cinema brasileiro esteticamente mais sofisticado tenha uma presença muito mais forte no cenário mundial. Em termos de coprodução com outros Estados, acredito que a SP Cine será, sim, de enorme ajuda.

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Em Florianópolis não houve edital do Fundo Municipal de Cultura, nem o edital de cinema do Funcine em 2013, os poucos mecanismos que temos, mas conquistados há bastante tempo. Caminhamos para trás. O atual governo municipal até criou uma Secretaria de Cultura (separada de outras áreas como Esporte ou Turismo, como ainda acontece no âmbito estadual), mas a cada mudança de gestão as políticas públicas já conquistadas são interrompidas. É como asfixiar aos poucos, pelo menos por aqui, um setor que só se expande em todo o país.

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