quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Guru em Hollywood, Robert McKee diz que roteiristas brasileiros devem aprender a não explicar tudo

O professor esteve no Brasil para dar um curso dentro do Programa Globosat de Roteiristas.

Robert McKee diz que a melhor escrita dos EUA está na televisão atualmente
Foto: Divulgação
Robert McKee diz que a melhor escrita dos EUA está na televisão atualmente Divulgaç






















RIO - No filme “Adaptação”, de Charlie Kaufman, o protagonista, um roteirista em meio a uma crise de inspiração, decide se inscrever num famoso curso de roteiro: trata-se de “Story”, de Robert McKee. Conhecido como uma espécie de guru dos roteiristas de Hollywood — seus alunos já ganharam mais de 60 Oscars e 170 Emmys —, ele esteve no Brasil pela primeira vez em 2010 para ministrar as aulas do mesmo curso. Agora, em 2014, pelo segundo ano seguido, passou pelo país dentro do Programa Globosat de Roteiristas, projeto que aposta na formação para o crescimento do mercado audiovisual no país.

No filme, McKee é interpretado por Brian Cox e, embora não seja nada raivoso como o personagem — construído com sarcasmo por Kaufman — ele é sincero ao dizer quais são os principais pontos fracos nos roteiros das séries brasileiras.

— Os roteiristas precisam aprender a não explicar tudo. No Brasil, os personagens dizem exatamente o que estão pensando. Não existe subtexto. É preciso confiar que o ator e o público vão entender o que está sendo dito sem precisar de todas as palavras. Isso é absolutamente fundamental na hora de criar uma série com padrão internacional —afirma.

Já a indústria televisiva dos EUA não tem muito do que reclamar há pouco mais de uma década, quando uma leva de séries encabeçadas por “Família Soprano” deu início à uma Era de Ouro. McKee concorda com a afirmação de que a melhor escrita dos EUA hoje está na TV. E não apenas em comparação com o cinema: com a literatura e o teatro também, diz ele. E os motivos principais para os melhores roteiristas terem migrado do cinema para a TV (e, aos poucos, terem levado diretores e atores também) são dois: poder e liberdade.

— No cinema, o roteirista não tem a liberdade de que gostaria. Ele precisa agradar ao diretor, ao produtor, ao dinheiro. E o trabalho fica comprometido. Na TV, o roteirista manda. Porque o tempo para preencher é infinito, mas os verdadeiros talentos são poucos. Para aceitar escrever uma série, além de pedir muito dinheiro, o roteirista normalmente acumula o cargo de produtor-executivo. Além disso, na TV, é possível contar histórias que o cinema não ousaria. Há mais liberdade de criação e experimentação.

Em suas aulas sobre TV, o ensinamento mais valioso é que a chave de tudo é o personagem. Afinal, numa trama que pode chegar a durar 10 anos ou mais, é preciso que o público se mantenha interessado no protagonista.

— A complexidade psicológica é essencial. O personagem precisa ter contradições. Alguém como Dexter, por exemplo. É um cara legal, todos na polícia o adoram, faz bem seu trabalho, é bom pai.... E é um serial killer de precisão nazista. Essa contradição nos fascina. Não é fácil, mas é simples criar isso. Você precisa ter um insight para bolar a ideia, mas a técnica eu explico em dois minutos.

Isso nunca será diferente, ele defende. Mesmo com toda a tecnologia que vem mudando a forma com que os espectadores assistem à TV. No caso de uma série como “House of cards”, cuja temporada inteira fica disponível para quem quiser assisti-la de uma vez só, ele destaca o risco trazido pelo novo formato, já que não é possível “estrear dois ou três, ver a reação do público, e talvez ajustar algo”. Mas ressalta que manter o espectador querendo ver episódios sem parar sempre foi papel dos roteiristas.


— Meu filho insistia para eu assistir a “24 horas”, e eu não queria. Um dia, fui à locadora e aluguei 4 episódios. Comecei a assistir às 20h. À meia-noite, estava pronto para invadir a locadora. A série nos deixa de um jeito que você não consegue parar. Esse é o trabalho do roteirista.

fonte:

http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/guru-em-hollywood-robert-mckee-diz-que-roteiristas-brasileiros-devem-aprender-nao-explicar-tudo-11539505

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