terça-feira, 3 de janeiro de 2012

FESTIVAL DE ATIBAIA: Paulo Henrique Silva fala sobre três curtas

A safra de longas-metragens brasileiros foi um dos destaques de 2007, com dois ou três filmes aparecendo em várias listas de melhores do ano. Os curtas, porém, não tiveram a mesma força, pelo menos nos festivais por onde passei. Essa sensação voltou à tona durante o 3º Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual, considerado o "festival dos festivais" por reunir os grandes premiados do ano anterior.
Não há nada muito destoante, mas sinto, em grande parte dos curtas, uma necessidade de "forçar a barra" devido ao limite de tempo. Muitas situações acabam se tornando artificiais. Em outros casos, o final deve ser obrigatoriamente engraçadinho ou impactante. Resultado: a narrativa não flui naturalmente.
O filme que mais me atraiu em Atibaia, nas primeiras sessões da mostra competitiva, foi o vídeo pernambucano de animação O Jumento Santo e a Cidade que Acabou Antes de Começar. A linguagem espirituosa, que subverte o que teria sido a criação do mundo pela perspectiva bíblica, mantém-se do início ao fim. À medida que a narrativa avança, o roteiro vai incorporando novos elementos, muitos deles próprios do universo nordestino. A narração contribui fortemente para essa leitura, em que antes de Adão e Eva experimentarem o pecado com a maçã, Deus já tinha feito uma outra tentativa, mas com o caju.
Do Nordeste também vem Cine Zé Sozinho, do cearense Adriano Lima. O diretor descobriu uma ótima história no sertão, que tem tudo a ver com o viés cineclubista do Festival de Atibaia, sobre um senhor que, apaixonado pelo cinema, montou uma sala caseira, com poucos recursos e uma grande platéia. Lima retrata o personagem com carinho, sem deixar de lado o humor.
Ganhador do Festival de Brasília, Trópico das Cabras é um curta que, de acordo com as palavras do próprio diretor, Fernando Coimbra, trabalha mais o lado emocional do que, propriamente, contar uma história. O que vemos é um casal em situação sui generis, em que o homem é traído embaixo de seu nariz, num jogo que só entenderemos completamente no final. As puladas de cerca se tornam cada vez mais freqüentes, caminhando para um desfecho singular. A imagem é muito bem trabalhada, dentro da proposta de sugerir mais do que explicitar. O formato road movie se encaixa muito bem nesta viagem interior do personagem - o encontro com a sua alma, por assim dizer, é, no mínimo, perturbadora.
Neste sábado, os vencedores do Festival de Atibaia serão anunciados e conheceremos, pelo menos na teoria, o melhor curta da safra 2007. Façam as suas apostas.
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Paulo Henrique Silva é repórter e crítico de cinema há 12 anos do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte. Formado em 1995, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belo Horizonte (hoje UNI-BH), é pós-graduado em Gestão Estratégica da Comunicação, pela Pontifícia Universidade Católica/MG, curso concluído em 2007. No Cinema em Cena, Paulo assina a coluna Moviola, sobre história do cinema nacional e internacional.
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Para informações sobre a programação do Festival de Atibaia, visite o site oficial.

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